Camaçari e suas contradições
Divulgado recentemente, o Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF), da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), mostrou que 90% dos municípios baianos não sabem administrar seus recursos financeiros. Baseada em dados de 2006 a 2010, a pesquisa afirma que 82 das 374 cidades baianas investigadas estão entre as 500 piores do país – um quinto das prefeituras. O estudo situou Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), entre os que tiveram boa gestão (conceito B), mas… será que o município administrado pelo prefeito Luiz Caetano (PT) é mesmo referência em gestão?
Trigésimo sexto município mais rico do país, segundo o senso do IBGE de 2010, Camaçari tem um PIB superior a R$ 10 bilhões, à frente de capitais como Aracaju, Natal, Florianópolis e Cuiabá. Apesar de ter uma população de apenas 242 mil habitantes, esses recursos continuam sendo muito mal distribuídos. O atual prefeito tem alardeado, por exemplo, que os beneficiários do Bolsa Família chegaram, na sua gestão, aos 27 mil, uma população superior aos 10% dos seus habitantes. Como o 36º município mais rico do país pode ter mais de 10% dos seus habitantes precisando receber dinheiro do governo?
“Os números mostram que, apesar de ter sido considerado um município bem gerenciado pela pesquisa, Camaçari não tem uma boa política de geração de renda”, considerou o consultor de gestão pública, Luis Otávio Borges. Outro dado apontado pelo especialista é a baixa empregabilidade. Segundo ele, dados recentes mostram que são 13 mil empregos diretos e 20 mil indiretos, um total de 33 mil pessoas empregadas. “Claro que é um município muito jovem, em que há muitas crianças que não fazem parte da População Economicamente Ativa (PEA), mas ainda assim é um número muito baixo”.
De acordo com o analista, um município com um PIB per capita tão alto como Camaçari não deveria apresentar tantos problemas em áreas essenciais como segurança pública, saúde e educação. “Como Camaçari não tem uma Guarda Municipal, por exemplo?”, questiona. Ele ainda aponta como problema na gestão do município o baixo investimento na área de Meio Ambiente. Na pesquisa do IFGF Camaçari se destacou devido aos baixos gastos com pessoal e boa administração de restos a pagar.
Outro setor com mau desempenho é o turismo, na avaliação de Borges. “Camaçari tem 42 quilômetros de praia, mas o turismo praticamente não existe”. “As praias estão quase todas escondidas por condomínios, então alguma coisa está errada”, considera. Entre as praias pertencentes a Camaçari estão Jauá, Guarajuba, Itacimirim e Arembepe.
O ponto positivo da gestão Caetano apontado pelo especialista é a Cidade do Saber, projeto que se tornou referência por ter incentivado a prática de esporte, a cultura, o lazer e a educação. Mesmo assim, populares criticam o fato de o projeto estar concentrado no centro da cidade, o que acaba excluindo a população de baixa renda. “Como há problemas com o transporte público, os bairros periféricos ficam de fora”. Parte dos habitantes da cidade ainda critica algumas restrições dos programas oferecidos na Cidade do Saber, como a impossibilidade de pessoas com mais de 23 anos estudarem línguas estrangeiras.
Observa-se que, apesar dos baixos gastos com pessoal e a boa administração de restos a pagar, a gestão de Camaçari passa longe do ideal para um município tão rico. O secretário da Fazenda, Paulo Cézar, afirmou recentemente ao jornal Correio que o município estuda maneiras de aumentar a receita com a revisão de alguns impostos, o que é um ponto positivo. No entanto, o maior problema da gestão petista mais parece ser o destino dos recursos que a falta deles.(247)