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Como turistas viraram uma ameaça à cidade de Game of Thrones

No fim de tarde, a revoada de andorinhas que toma os céus da cidade nos meses de calor em meio ao pôr do sol cria uma aura quase mágica.

Mas os impactos do turismo podem ser sentidos por quem a visita entre a primavera e o verão do Hemisfério Norte, algo que já rende má fama a Dubrovnik.

Ao planejar uma viagem à Croácia, fui advertido por mais de uma pessoa sobre o problema. “Tem tanta gente que nem vou para lá”, me disse uma turista francesa em Split, cidade mais ao norte na costa croata.

O excesso de visitantes gera um efeito “Disneylândia”. É comum cruzar com excusões enormes. As ruas estreitas ficam lotadas, e parece haver nelas só visitantes – além de vendedores, guias turísticos e funcionários de hotéis e restaurantes.

Hoje, há pouco mais de 1 mil pessoas vivendo na Cidade Velha. Eram cerca de 5 mil moradores no início da década de 1990, mas eles venderam suas casas ou as transformaram em acomodações.

“Quando cheguei aqui”, diz Mark Thomas, editor do jornal The Dubrovnik Times, “eu parava para não passar na frente das pessoas que estavam tirando fotografias. Agora, são tantas que eu não conseguiria chegar a lugar nenhum se continuasse a fazer isso.”

“Game of Thrones” tornou-se uma presença difícil de ignorar no centro histórico.

A série passou a ser gravada na cidade em 2011. Atualmente, há lojas inteiras dedicadas ao programa da HBO, e fãs da série fazem tours para conhecer pessoalmente onde foram gravadas cenas-chave, como a escadaria da Caminhada da Vergonha da rainha Cersei, o local do Casamento Púrpura no qual o rei Joffrey morre envenenado e o porto onde se deu a Batalha da Baía de Blackwater.

Ruína ou exagero?

O jornal britânico The Telegraph declarou em uma reportagem recente a “morte de Dubrovnik”, dizendo que superlotação “arruinou” a cidade conhecida como “Pérola do Adriático”.

A reportagem cita o alerta da Unesco ao mencionar que o status de patrimônio histórico da cidade estaria sendo revisto, algo que o organismo internacional nega.

“Até hoje, isso só ocorreu duas vezes, quando os danos aos locais fizeram com que perdessem seu valor histórico”, afirma Rössler.

“Há muitas etapas até algo assim ocorrer, e a primeira delas é o alerta, mas não vejo isso acontecendo com Dubrovnik no momento.”

Romana Vlasić, diretora do conselho de turismo da cidade, acredita que esse sinal amarelo chega em boa hora, para fazer a cidade parar e refletir sobre seu sucesso.

“Estamos no nosso limite. Ninguém se sente confortável de andar em uma multidão.”

Uma estratégia adotada é promover a cidade em outras épocas do ano, fora da alta temporada. “Temos de organizar melhor os visitantes, ajustar o cronograma de cruzeiros, ter navios menores e rever a construção de hotéis, porque mais quartos trarão mais gente”, afirma Vlasic.

“Só assim seremos capazes de mostrar nosso melhor.”

É uma questão delicada para uma cidade em que 70% da economia gira em torno do turismo. O prefeito diz que, por isso, restrições ao turismo demandam cuidado, mas são inevitáveis.

“No curto prazo, vão haver impactos para todos, mas, no futuro, isso vai fazer as pessoas que hoje evitam ou passam rapidamente pelo centro histórico ficarem mais tempo por lá”, afirma Franković, para quem as notícias sobre a ruína de Dubrovnik são um exagero.

“Estamos cientes de que temos um pequeno problema e estamos buscando resolvê-lo. Dubrovnik resiste a adversidades há séculos. Ninguém nunca a destruiu nem o fará.”

(BBC/G1)

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