Câmara debate construção de cemitério vertical
Problemas estruturais dos cemitérios públicos da cidade, como a falta de vagas, higiene e segurança, foram debatidos durante audiência pública realizada na manhã desta quinta-feira (1º), no Edifício Bahia Center, anexo da Câmara Municipal de Salvador. O encontro foi promovido pelo vereador Orlando Palhinha (PP), autor do Projeto de Indicação nº 304/09 que sugere a implantação de cemitérios verticais no município.
Apresentado em 2009, o projeto tem como objetivos aumentar a quantidade de vagas, diminuir o risco de doenças e infecções, economizar espaço e evitar a poluição do meio ambiente.“A população pobre é a que mais sofre. O crescimento das cidades exige equipamentos cada vez maiores. No caso de cemitérios, a ocupação de uma grande extensão de terra dentro de uma cidade como Salvador é um problema”, declarou Orlando Palhinha, acrescentando que a Prefeitura decidirá o melhor lugar para a implantação.
O assessor do vereador, Jorge Andrade, apresentou um modelo do projeto do cemitério vertical, com base em experiências que deram certo em outros municípios brasileiros. Citou o primeiro cemitério vertical do país, inaugurado em 1772, em São Miguel e Almas, no Rio Grande do Sul, e lembrou as instalações bem sucedidas em Santos, Guarulhos, Curitiba e Diadema.
A secretária municipal da Ordem Pública, Rosemma Maluf, anunciou ações de curto, médio e longo prazos para melhoras as condições dos cemitérios municipais e considerou positiva a proposta dos equipamentos verticais.
“É uma alternativa a ser estudada e debatida. Em curto prazo, devido à escassez de recursos do município, requalificaremos os que já existem e investiremos na construção de ‘carneirinhos’, colunas verticais com quatro compartimentos. Não podemos tratar o cemitério apenas como um espaço físico, já que é onde nossos entes queridos são enterrados. Essa proposta será, com certeza, muito importante para as comunidades”, declarou Rosemma Maluf.
Cultura
Na proposta, o vereador Orlando Palhinha destaca a importância de novas alternativas para o melhor aproveitamento do espaço em uma cidade populosa como Salvador, porém alerta para os empecilhos culturais.
“O sepultamento poderia ser substituído pela cremação. Todavia, a nossa cultura e as crenças que as pessoas nutrem sobre determinado valores ainda representam um obstáculo. Creio, portanto, que a construção de cemitérios verticais é uma solução que respeita os valores das pessoas e proporciona dignidade neste que é o último serviço que o município presta ao cidadão”, conclui Orlando Palhinha.
Durante a audiência, foram exibidos ainda três vídeos de matérias veiculadas na imprensa sobre a falta de vagas nos cemitérios de Salvador e que apresentam o projeto de indicação do vereador Palhinha como uma alternativa viável.
População participa
O vereador Orlando Palhinha afirma que “ninguém tem mais legitimidade para debater as dificuldades dos cemitérios municipais do que a própria população de Salvador, especialmente a mais pobre”. Ele destacou a importância de ouvir as considerações da população em debates públicos.
A líder comunitária do Conjunto Habitacional Coutos, em Fazendo Coutos, Leda Pereira, relatou os problemas enfrentados pelos moradores do Subúrbio Ferroviário.“Pela lei, 30% das vagas dos cemitérios particulares devem ser destinadas à população que não tem condições de pagar, mas, quando precisamos, dizem que não há vaga. Nem morto, rico se mistura com pobre”, criticou.
A aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, Lorena Valverde, estuda o tema e sugeriu que um terreno no bairro de Lobato pode ser utilizado para a construção do cemitério vertical.
“Salvador é muito carente em relação a cemitérios, que estão muito longe de ser ecologicamente corretos. Acredito que o cemitério vertical não deve ter muitos andares para se adaptar melhor à realidade da nossa cidade”, argumentou a estudante.
Necrochorume
No processo de decomposição, o cadáver libera, durante aproximadamente seis meses, uma mistura de líquidos chamada de necrochorume. Este composto possui grande potencial de contaminação química e bacteriana, podendo infectar lençóis freáticos e contaminar pessoas que tenham contato com a mistura.