Tombini:BC pode intervir no câmbio para dar liquidez
O presidente da Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou nesta quinta-feira que, se for preciso, o órgão pode intervir no mercado de câmbio para dar liquidez, em um momento em que o mercado testa os limites de uma banda informal para a moeda-norte-americana.
Tombini creditou a recente alta do dólar – que se aproximou de 2,10 reais na quarta-feira, considerado pelo mercado como o teto da banda informal do BC — à maior demanda por moeda estrangeira no fim do ano, e reiterou que a autoridade monetária não tem uma banda formal ou informal para o câmbio.
“Ao final do ano há tradicionalmente uma oferta menor de dólares e uma demanda maior, num movimento que tende historicamente a se reverter logo no inicio do ano. No ano passado não foi preciso (intervir), mas se preciso for interviremos também na questão de provisão temporária de liquidez na virada do ano”, disse nesta quinta-feira o presidente do BC em audiência na Comissão Mista de Orçamento.
Tombini enfatizou diversas vezes a possibilidade de atuação da autoridade monetária ao destacar que o BC “está pronto, sempre pronto” para atuar, ao mesmo tempo que negou a existência de uma banda para o câmbio.
“Não temos no país qualquer objetivo de câmbio, estamos com câmbio flutuante e nós sempre tomaremos precauções para evitar que o Brasil seja uma praça de desvalorização de importantes moedas contra a nossa moeda. A presidente Dilma recentemente mencionou esse fato”, afirmou o presidente do BC durante a audiência.
Recentes declarações da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, foram interpretadas como indicativo de que o governo toleraria o dólar acima de 2,10 reais.
Na quarta-feira, o dólar chegou a ser negociado a 2,0995 reais, mas apenas uma carta circular do BC reiterando uma mudança técnica na divulgações das intervenções fez a alta desacelerar.
As declarações do presidente do BC fizeram o dólar cair com mais força nesta manhã, chegando a mínima de 2,0892 reais. Às 13h41, o dólar tinha queda de 0,17 por cento, sendo cotado a 2,0917 reais na venda.
O governo tem apontado que essa recente valorização do dólar ocorre também nos mercados internacionais em resposta a eventos internacionais como o conflito no Oriente Médio ou o temor nos Estados Unidos sobre o “abismo fiscal”.
Tombini afirmou estar atento para evitar que fluxos muito fortes das divisas para dentro do país causem problemas internos. “O nível do custo do dinheiro está muito baixo. Se nós não tivermos cuidado, esse dinheiro pode entrar no país e sair rapidamente e deixar uma trilha de problemas, como já vimos no passado”, afirmou.
Bancos centrais ao redor do mundo tem reduzido juros e implementado uma série de programas de compra de ativos, o que tem aumentando de forma significativa a liquidez dos mercados internacionais nesse momento de crise financeira.
ATIVIDADE E INFLAÇÃO
Apesar do momento de crise, Tombini lembrou que o país continua atraindo recursos produtivos e não fluxos especulativos. Segundo ele, o Brasil atraiu 7,7 bilhões de dólares em investimento estrangeiro direto em outubro, superando as expectativas do BC. Em 12 meses, os investimentos estrangeiros diretos somam 66 bilhões de dólares.
O maior fluxo coincide com uma melhora na atividade econômica. Tombini reafirmou que a economia brasileira está acelerando neste semestre e que a expectativa é de um ritmo mais intenso em 2013, apoiada em importantes fatores de sustentação da demanda, como emprego, renda e crédito.
Apesar de mais aquecida, a economia não deve gerar mais inflação, disse Tombini.
“A inflação está sujeita a reversões, mas converge para a meta de forma não linear”, afirmou. A meta de inflação é de 4,5 por cento com tolerância de 2 pontos para cima ou para baixo. A expectativa do BC é que o IPCA feche o ano em 5,2 por cento e chegue em 2013 em 4,9 por cento.
O mercado é mais cético e aposta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine 2012 em 5,45 por cento e fique em 5,39 por cento em 2013.
Diante disso, Tombini reafirmou que poderão ocorrer ajustes nos instrumentos monetários, “para cima ou para baixo”, para controlar a inflação.
A taxa Selic está em 7,25 por cento ao ano, depois de cair 5,25 pontos percentuais desde outubro do ano passado.(Reuters)