Ferryboat da TWB navega com rombo no casco e água é retirada com bomba
Apesar de a Agerba (Agência de Regulação da Bahia) ter anunciado há mais de dois meses que a concessionária paulista TWB poderia ter seu contrato rompido com o governo, caso não investisse imediatamente R$ 36 milhões na melhoria do sistema ferryboat, a situação da travessia Salvador-Bom Despacho é cada vez mais caótica, hoje. O sistema só tem duas embarcações em tráfego, o que tem gerado protestos seguidos dos usuários nos terminais.
E o que é mais grave: o nível de sucateamento das embarcações chegou a um ponto tão crítico que o navio “Rio Paraguaçu” está trafegando e transportando vidas humanas com o casco furado. Os marítimos embarcados se viram como podem para tirar a água durante o trajeto com a utilização de uma bomba, que antes servia ao ferry “Ipuaçu”, este com um imenso rombo no casco e adernado no Terminal de Bom Despacho.
“O furo no casco do “Rio Paraguaçu” está localizado no tanque séptico. A água que entra vai sendo retirada por uma bomba para evitar a invasão da praça de máquina e o rombo está aumentando dia a dia. A TWB está fazendo isso escondido da Capitania dos Portos, mas a Agerba tem conhecimento. É um perigo e coloca em risco a vida dos usuários. Infelizmente, a situação dos navios é a pior possível e parece que a TWB está agindo de propósito, para que aconteça algum acidente e obtenha com isso recursos do governo”, revelou um funcionário da TWB ao JORNAL DA MÍDIA.
O preposto da TWB conduziu um fotógrafo do JM ao interior do navio “Ipuaçu”, que há cerca de dois anos está encalhado no Terminal de Bom Despacho, à espera da ”manutenção” da TWB. Em julho de 2011, o secretário de Infraestrutura, Otto Alencar, garantiu em várias entrevista à imprensa, que o “Ipuaçu” seria remotorizado, com recursos do Estado, e que em novembro daquele ano voltaria a navegar.
E nada. O Verão 2011/2012 passou e o “Ipuaçu” segue em situação cada vez mais difícil. Com um rombo no casco, o convés inferior está submerso e o navio só flutua quando os empregados da TWB utilizam uma bomba para jogar a água no mar. Como a bomba está servindo agora ao “Rio Paraguaçu”, o “Ipuaçu” desceu e está apoiado no banco de areia.
No interior do “Ipuaçu” a situação não poderia ser outra: a embarcação está desmontada, sem motores, com equipamentos jogados no convés de veículos, completamente enferrujado, comprovando mais uma vez o descaso da TWB com o patrimônio público e a negligência total do governo, que continua sem fiscalizar e tomar medidas para exigir que a empresa pelo menos cumpra o que acordou com o Estado na assinatura do contrato de concessão.
“A situação do ”Ipuaçu” hoje já é bem parecida com a do ferry “Gal Costa”, que depois de sucateado e depenado foi vendido por R$ 50 mil”, sustenta o preposto da TWB. O “Gal Costa” foi depenado pela TWB entre o final de 2005 e durante todo o ano de 2006, de acordo com reportagem do jornal A Tarde.
A depenação do “Gal Costa” começou pelos equipamentos de navegação, depois chegou aos motores, âncoras, molinetes. Levaram tudo e deixaram o ferry no casco. “Até chapas eles tiravam quando o ferry estava na Marina Aratu. Tinham peças que era tiradas para serem colocadas nos navios que estavam em tráfego, porque a TWB não queria gastar dinheiro, mas outras tinham destino ignorado”, observa a fonte do JM.
Em postagens na área de comentários do JM, leitores já fizeram várias denúncias de que na depenação do “Gal Costa” as peças eram levadas em caminhões suspeitos e até em carros estampados com a marca da Agerba. Em muitos desses comentários existem informações de que as ações de depenação teriam sido filmadas e que diretores da Agerba já tinham tido acesso a alguns vídeos, mas que nenhuma providência foi adotada pelo órgão fiscalizado para investigar a situação.
Em postagens no seu Facebook, o ex-diretor de Fiscalização da Agerba, Jorge Courceiros, garantiu que entregou pelo menos três relatórios contra a TWB ao então secretário Wilson Brito, que fez vista grossa. Brito, que é politicamente ligado ao deputado federal Mário Negromonte, sucedeu João Leão na Seinfra – Leão era tido como um defensor da TWB. Foi nesse período de Leão/Brito que a TWB trouxe para a Bahia o ferryboat “Anna Nery” e recebeu nada menos R$ 9,2 milhões de uma contrapartida do Estado.
O “Anna Nery” é o mesmo que já se envolveu em dezenas de acidentes. Apesar de ter entrado em tráfego em janeiro de 2011, a embarcação é recordista em parar para manutenção, aumentando as suspeitas de que não se tratava de uma embarcação nova como a TWB disse na época e fez os ”gestores” da Seinfra/Agerba acreditar.
“De janeiro de 2011 a maio deste ano o “Anna Nery” já contabilizou 93 dias fora de tráfego, o que é um absurdo em se tratando de um ferry tido como ”ponta de linha”. Isso só comprova que a TWB não dá manutenção nem mesmo aos navios novos. Essas paradas constantes prejudicam as operações do sistema e deixam a população sem atendimento”, afirma uma fonte da Agerba consultada pelo JM. A Agerba tem hoje, segundo essa fonte, um ”diagnóstico completo” sobre a situação da TWB, que a fonte considera ”vexatória”
“A TWB não tem hoje a menor condição de continuar operando o sistema ferryboat. Não quer investir porque se diz descapitalizada e não consegue operar normalmente o sistema”, garante a fonte. Perguntado sobre o que a agência fará daqui para a frente em relação à concessionária, a fonte disparou: “O que sei é que estão aguardando um parecer da Procuradoria Geral do Estado (PGE) em relação ao resultado da auditoria feita pela Fipecafi na TWB. Esse parecer é que deve nortear a Agerba”.
Enquanto isso, os usuários que esperem e se arrisquem em pegar o ferryboat. A lentidão do governo é algo que impressiona. Ou é o fogo que a TWB diz ter que faz setores do governo se recolherem? Tudo é possível. Não tem o menor sentido o governo insistir tanto com a empresa que veio de São Paulo em 2005 e que jogou o ferryboat no fundo do poço. A TWB é fraquíssima em termos de gestão e caótica na área de operação. Ninguém precisa provar mais nada nem fazer auditoria ou relatórios para mostrar a situação vexatória do sistema. Portanto, a responsabilidade é totalmente do governo.(JORNAL DA MÍDIA)