Cientista defende que a matemática deve ser estimulada entre mulheres desde cedo
Jaqueline já ganhou prêmio por pesquisa com equações diferenciais A ciência dos números sempre foi coisa de mulher para a doutora Jaqueline Godoy Mesquita, de 34 anos. Ainda adolescente, ela teve que convencer os pais de que a Matemática é uma carreira que pode contribuir para o progresso da humanidade. Hoje, ela integra o grupo de pesquisadores da Academia Mundial de Ciências, é bolsista na secular Universidade Humboldt, na Alemanha, e já ganhou prêmio por suas pesquisas.
É uma luta diária para as mulheres brasileiras se destacarem nas ciências exatas, mas a cientista Jaqueline Godoy Mesquita compreendeu desde cedo que, muito mais do que se dedicar aos números e equações, ela teria que decifrar o problema do preconceito e da discriminação contra a mulher na Ciência.
“Não é raro ver mulheres em reuniões, por exemplo, tendo dificuldades de fazer suas falas”, disse.
Jaqueline é professora do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília (UnB), mas atualmente mora na Alemanha, onde é bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação Alexander Von Humboldt, fazendo o seu terceiro pós-doutorado.
Até chegar lá, foi uma longa trilha de estudo, dedicação e luta. Ainda pequena, Jaqueline aprendeu a lidar com as adversidades. Para estudar o que ela queria, foi preciso primeiro convencer a família. “Meus pais queriam muito que eu fizesse Medicina, o sonho deles é ter uma filha médica”, relatou.
Os pais, Gilson e Aparecida, achavam que depois de cursar o bacharelado em matemática, Jaqueline faria outro curso. E ela fez, mas foi o mestrado, novamente em matemática. Em seguida, veio o doutorado. E não parou mais. A cientista ganhou prêmio por uma complexa pesquisa na área das equações diferenciais funcionais.
“Essas equações são muito importantes para descrever fenômenos que não acontecem instantaneamente. Por exemplo, temos modelos de doenças que possuem períodos de incubação que podem ser bem descritos por essas equações, como é o caso do vírus Zika. Sabemos que quando a pessoa é infectada com o vírus, os sintomas não aparecem instantaneamente, mas decorre um certo tempo entre a pessoa ser infectada e os sintomas aparecerem”, explicou.
Foi por causa dos resultados dessa pesquisa que Jaqueline recebeu o prêmio do programa “Para Mulheres na Ciência”, oferecido pela Loreal, em parceria com a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências.
Programa – Há 14 anos, o programa “Para mulheres na Ciência” contempla cientistas para estimular o equilíbrio dos gêneros no cenário brasileiro e incentivar a entrada de jovens mulheres no universo científico.
Para Jaqueline, que se orgulha de ser um modelo de determinação e talento para suas alunas da graduação e pós-graduação, o machismo está presente nos meios acadêmicos e científicos, especialmente da Matemática, em que a representatividade feminina é baixa. E esse cenário começa a ser construído bem cedo, segundo a professora.
“Se a gente for numa loja de brinquedos e a gente for na seção de brinquedos para meninas e brinquedos para meninos, vemos que já há uma segregação muito forte. Então, vemos que os brinquedos para meninas estão mais ligados para o cuidar, então são bonecas, são carrinhos de bebê, enquanto que os brinquedos mais voltados para os meninos são mais ligados à liderança, independência, a raciocínio lógico dedutivo”, enfatizou.
Saiba mais – A história da cientista premiada brasileira que defende que a matemática deve ser estimulada entre mulheres desde cedo é o tema da edição desta sexta-feira, 1° de novembro, do programa Trilhas da Educação, da Rádio MEC.
Assessoria de Comunicação Social
MEC