Política

Decisão já

Conhecido como o mês do desgosto, o agosto de 2017 pode surpreender e até ser o oposto. Já nesta primeira semana tem-se a chance de ver resolvido o destino do presidente Michel Temer, em sessão na Câmara dos Deputados prevista para quarta-feira. E, seja qual for o resultado – contra ou a favor da abertura de inquérito –, o país ganha. Fecha-se um capítulo, passa-se a página.

Mas, como as assombrações agostinas são incansáveis, tudo está por um fio.

Para dar início à votação que autoriza o prosseguimento das investigações contra o presidente é necessário o registro de presença de 342 dos 513 deputados, número exigido também para aprovar a denúncia.

Quórum dificílimo. Sem alcançá-lo, a votação é adiada e o perrengue prossegue.

Do contrário, o mais provável é que Temer vença. Não por ter votos suficientes, mas pela dificuldade de seus opositores em reunir dois terços da Casa contra ele.

Na tentativa de não ser apeado do cargo, Temer tem lutado com todos os recursos disponíveis, literalmente. Usa sua experiência congressual para tentar convencer deputados a comparecerem à sessão, ainda que se abstenham do incômodo de votar em favor dele. Mima, adula, antecipa a liberação de emendas parlamentares que, mesmo tornadas obrigatórias por lei, tiveram calendário surreal neste ano – 63% delas foram atendidas no primeiro semestre, a maioria em julho.

Do outro lado a desordem é total.

Entre os tucanos – que usam a fama de muristas de acordo com a conveniência — a ideia é usufruir dos ministérios que ocupam, das benesses do governo, e rechaçá-lo no plenário da Câmara. Um escárnio.

O PT, propagador da tese de “golpe” do vice de Dilma Rousseff, se encolheu em relação às denúncias de Joesley Batista, base da incriminação de Temer. Ao presidente atribuem a culpa por todos os males criados pelos governos petistas: aumento do desemprego, queda do consumo, recessão. Mas, claro, se calam quando o papo é JBS, enriquecimento ilícito, dinheiro sujo.

O fato é que nem mesmo a impopularidade recorde do presidente conseguiu fazer pegar o “Fora Temer”, que aparece em cartazes, mas não colou nas ruas, não encantou multidões. Como parcela significativa dos opositores do presidente tem contas mais pesadas do que ele no capítulo corrupção, a pregação pró-moralidade ficou prejudicada.

Ainda que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tenha fatiado as denúncias contra Temer e ameace com uma ou duas a mais, o resultado desse primeiro cabo de guerra pode pôr fim a um ciclo. E ditar as manobras seguintes – políticas e jurídicas.

Se o time de Temer conseguir reunir quórum e, ao mesmo tempo, impedir que se forme maioria qualificada contra o presidente, derruba-se a denúncia. Dificulta-se ainda o picadinho que Janot imaginou. Se perder, Temer é afastado e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assume. Imediatamente.

Maia, também citado pela Lava-Jato, frequenta a torcida de muitos. Curiosamente, por rezar a mesma cartilha de Temer.

Está alinhado com a rigidez fiscal do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defende as reformas da previdência e tributária. Mais: já provou que tem estrela, atributo essencial para jornadas de sucesso na política. Tornou-se presidente da Câmara dos Deputados depois dos rolos que levaram Eduardo Cunha à renúncia e posterior cassação. E, aos 47 anos, pode ser presidente da República se Temer for descartado.

O desfecho – se Temer ou Maia – pode até não empolgar. Mas, de um jeito ou de outro, o melhor seria decidir já. Daria fôlego ao país e outros ares ao malfadado mês de agosto (Blog do Noblat)

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