Remover células ‘adormecidas’ pode reverter envelhecimento
Livrar o corpo de células “adormecidas” pode reverter efeitos provocados pelo envelhecimento, segundo um estudo publicado no periódico Cell na quinta-feira. Administrando uma substância capaz de varrer células em estado de dormência, pesquisadores conseguiram melhorar o condicionamento físico, a atenção, o pelo e o funcionamento dos órgãos de camundongos.
Se o procedimento for considerado seguro, a equipe pretende realizar uma série de outros testes em humanos para descobrir se, ao livrar o corpo dessas células – chamadas de “senescentes” –, é possível prevenir alguns tipos de doenças relacionadas à idade, incluindo o câncer. Os resultados da pesquisa recém-publicada também vêm se juntar a novas descobertas que apontam para a possibilidade de um futuro tratamento para o envelhecimento em si.
“Talvez, quando tivermos 65 anos, iremos a cada cinco anos a uma clínica para uma sessão de anti-senescência. Serão sessões de rejuvenescimento”, afirmou um dos autores do estudo, Peter de Keizer, biólogo celular da faculdade de medicina da Universidade Erasmus de Roterdã, na Holanda, em entrevista ao britânico The Guardian.
Rejuvenescimento
Conforme envelhecemos, nossas células acumulam danos no DNA que, a partir de um certo ponto, não podem mais ser reparados. Quando isso acontece, as células podem se tornar cancerígenas, se autodestruir ou entrar em senescência. Nesse estado, a célula para de se multiplicar, como se estivesse adormecida, embora seu metabolismo continue funcionando. Inicialmente, os cientistas acharam que isso não provocava nenhum dano ao organismo, porém, cerca de uma década atrás, evidências começaram surgir de que elas não eram tão neutras quanto se imaginava.
“Foi descoberto que essas células senescentes secretam uma grande quantidade de substâncias prejudiciais e não são apenas espectadoras, mas também têm um efeito negativo”, disse Keizer. Em doenças relacionadas ao envelhecimento, uma grande concentração dessas células foi observada em torno de juntas, cataratas e artérias e cataratas (quando o cristalino do olho fica opaco, causando a diminuição da visão).
Ano passado, uma outra pesquisa publicada por Keiser e sua equipe mostrou que remover as células senescentes poderia fazer com que os camundongos vivessem 20% a mais do que a média. Nesse novo estudo, eles descobriram, pela primeira vez, que não só os animais viviam mais, como pareciam rejuvenescer.
Eles utilizaram um peptídeo – biomolécula que compõe a proteína – capaz de causar a morte dessas células em dois grupos de camundongos. O primeiro era formado por animais que envelheceram naturalmente, enquanto o segundo por roedores geneticamente modificados para envelhecer rapidamente. Ambos receberam infusões do peptídeo três vezes por semana durante dez meses.
Os camundongos modificados começaram a recuperar seu pelo após dez dias de infusões, e, em apenas três semanas, apresentaram uma melhora na condição física, podendo correr o dobro da distância dos animais que não receberam o tratamento. Após um mês, os camundongos velhos apresentaram um aumento nos marcadores que indicam funcionamento saudável dos rins.
Tratamento
Algumas questões, no entanto, ainda têm de ser investigadas pelos cientistas em relação aos limites dessa técnica. Como nem todos os tecidos podem se regenerar, existe a probabilidade de que restem poucas células em alguns deles. “Meu medo era que tirar as células dos camundongos faria com que eles simplesmente implodissem”, afimou Keizer. Porém, o pesquisador afirma não ter encontrado nenhuma evidência de que os roedores encolheram, embora isso possa se tornar um problema no futuro.
A equipe planeja realizar testes clínicos seguros em pessoas com uma forma agressiva de tumor cerebral, chamada Glioblastoma multiforme. Esse tipo de câncer faz com que as células apresentem um marcador semelhante às células senescentes, tornando o peptídeo um possível tratamento.(Veja)