Impasse sobre tarifa dificulta integração ônibus-metrô
Um impasse na divisão do valor da tarifa está emperrando a integração total entre ônibus urbanos de Salvador e o sistema metroviário. Atualmente, cerca de 50% das 600 linhas de ônibus da capital baiana estão integradas ao metrô, o que possibilita aos passageiros que utilizam os dois modais pagar apenas uma tarifa, de R$ 3,60.
Com o avanço das obras do metrô ao longo da avenida Paralela, novas estações serão inauguradas, o que vai demandar que mais linhas sejam integradas. No entanto, a falta de acordo entre o governo estadual e a prefeitura sobre a “fatia do bolo” que vai para empresas de ônibus e para o metrô é o grande entrave para que haja avanço.
Hoje, do total da tarifa integrada, R$ 1,42 vai para as empresas de ônibus (cerca de 39,4% do valor unitário da passagem), enquanto R$ 2,18 vão para a administração do metrô (60,5%).
Entretanto, estudos realizados pelas empresas de consultoria Ernst & Young e Deloitte – contratadas, respectivamente, pelas empresas de ônibus e pela Agência Reguladora e Fiscalizadora dos Serviços Públicos de Salvador – apontaram que esse valor da divisão causaria o desequilíbrio do sistema de ônibus da capital.
O valor que deveria ir para as empresas de ônibus apontado pelos estudos seria algo em torno de R$ 2,05. O governo estadual, por sua vez, diz desconhecer esse valor.
Debate
O sistema metroviário transporta, atualmente, cerca de 76 mil passageiros por dia, mas tem capacidade para receber, pelo menos, 120 mil pessoas diariamente – 58% a mais. O estado atribui essa capacidade ociosa à falta de integração total dos dois modais de transporte.
Enquanto segue o impasse, os maiores prejudicados são os usuários, que, se utilizam o metrô e uma das linhas não integradas, devem pagar duas vezes a tarifa.
A estudante Vanessa Santos, 24, por exemplo, aguarda a inauguração da estação de Pituaçu do metrô – prevista para ocorrer até maio – para utilizar os dois modais. Ela mora no Vale dos Lagos, estuda na Federação, e pretende pegar o metrô até a Lapa: “De lá, sigo de ônibus para a faculdade. Mas, para isso, preciso da integração”.
Tanto governo quanto prefeitura se dizem dispostos a continuar as negociações para que a integração entre os modais seja total.
Debate
A TARDE conversou com os secretários Fábio Mota (Mobilidade do município) e Bruno Dauster (Casa Civil do estado) para falar sobre as negociações em torno da integração. Mota revelou que a prefeitura já tem todos os estudos necessários para promover mudanças no sistema de ônibus quando a integração for total.
“Nós queremos integrar, achamos que esse é o caminho, melhora a mobilidade da cidade, o conforto, a segurança para as pessoas. Fizemos nosso dever de casa, já temos os estudos para promover as alterações. Para aumentar a integração, teria que resolver essa questão da divisão tarifária”, conta.
Ele revelou que foi solicitado ao estado que realize um estudo para apurar o valor da distribuição, já que o governo não concorda com o resultado apontado pelas duas consultorias.
Dauster, por sua vez, argumenta que o “avanço no processo da integração tarifária será dado quando a prefeitura racionalizar o sistema, tirando as deseconomias e fazendo o corte de custos excessivos”.
Ele disse, ainda, que o valor de R$ 1,42 para as empresas foi definido com base nos estudos feitos em conjunto entre estado e prefeitura. “Não queremos que haja maior tarifa para o povo. E isso só será possível se houver integração e racionalização, com corte das linhas que são hoje antieconômicas”, diz ele, complementando que a auditoria no sistema de ônibus deve ser feita após essa racionalização.
“É um absurdo que as empresas digam que tiveram perda de 10 milhões de passageiros equivalentes, porque não tivemos 10 milhões a mais no metrô. Esta prova não pode nos ser imputada, é uma fábula”, critica.(A Tarde)