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Presidente do TSE participa de debates na Comissão de Reforma Política da Câmara

Ministro Gilmar Mendes durante audiência na Comissão Especial de Reforma Política da Câmara dos Deputados
Na manhã de terça-feira (29), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, participou de reunião da Comissão Especial da Câmara dos Deputados para discutir a Reforma Política. Segundo o ministro, a reforma é necessária para dar novos rumos ao país e buscar soluções para a séria crise no ambiente político atual, que se deve ao modelo adotado e que já dá sinais de exaustão há algum tempo.
“Essa reforma política exige diálogo  institucional para que avance sem atropelos e sem retrocessos”, disse o ministro Gilmar Mendes, ao citar a possibilidade de participação do Supremo Tribunal Federal (STF) nas discussões, ainda que informalmente.
Nesse ponto, o presidente do TSE fez uma avaliação de decisões do STF – do qual também é integrante -, as quais, segundo ele, não foram felizes em seu objetivo. Uma delas foi em relação à cláusula de barreira, quando aquele Tribunal julgou inconstitucional limitar a atuação de partidos. Segundo Gilmar Mendes, a grande quantidade de partidos leva a problemas de governabilidade, e é preciso repensar esse modelo.
Outra decisão do Supremo comentada pelo presidente do TSE foi a que decidiu pela fidelidade partidária. Na ocasião do julgamento, a Suprema Corte entendeu que perde o mandato aquele parlamentar que mudar de partido, mas mantém o mandato aquele que sair para fundar um novo partido. “O STF deu a senha para a multiplicação de partidos: estamos com 35, atualmente”, disse.
Sobre a proibição de financiamento eleitoral por pessoas jurídicas, Gilmar Mendes acredita que tal discussão nunca poderia ter acontecido de forma distanciada da reforma política. Isso porque é preciso buscar soluções para o financiamento de campanhas a fim de evitar o uso de dinheiro irregular por meio de caixa dois.
“Não estou defendendo o financiamento privado, mas o STF declarou a inconstitucionalidade com argumentos muito frágeis do ponto de vista constitucional. O atual modelo de financiamento é consistente para a próxima eleição? Precisamos pensar sobre isso”, disse, ao lançar o questionamento.
Papel da Justiça Eleitoral
Ao fazer uma análise da atuação da Justiça Eleitoral na interpretação das normas aprovadas pelo Congresso Nacional, o ministro Gilmar Mendes afirmou que “eventual excesso que se possa vislumbrar nas resoluções do TSE advém da ambiguidade da legislação, que faz com que o Tribunal, ao interpretar, faça uma escolha”.
“É fundamental que quebremos a inércia e avancemos nesse processo de reforma”, completou o presidente do TSE, destacando o papel dos parlamentares. “Temos de reconhecer o valor da atividade política. Não existe democracia sem atividade política. Não podemos demonizar os políticos”, enfatizou Gilmar Mendes, ao pedir um canal aberto entre Justiça Eleitoral e parlamento para debater temas relacionados ao processo eleitoral.
Após sua apresentação, o ministro respondeu a diversos questionamentos apresentados por parlamentares integrantes da comissão.
Seminário “Diálogos sobre a Reforma Política”
Antes de comparecer à Câmara dos Deputados, o ministro Gilmar Mendes também participou da abertura do seminário “Diálogos sobre a Reforma Política”, realizado na sede do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Ele compôs a mesa ao lado do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, e do presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros, entre outras autoridades.
“A tarefa da reforma política é extremamente complexa, em que muitas vezes temos tido dissintonias e desacertos”, disse o presidente do TSE, ao abrir o evento. Ele recapitulou a evolução do debate sobre a cláusula de desempenho para partidos políticos, que começou ainda na década de 1990.
Para o ministro Gilmar Mendes, a questão da quantidade de organizações partidárias no Brasil atrapalha o debate sobre outras questões da reforma política, como o financiamento de campanhas e a fidelidade partidária. “Esse é o quadro que nós temos hoje, que dificulta enormemente todo o debate sobre as mudanças”, declarou.
A discussão sobre os sistema eleitoral vigente no país é essencial para que todas as reformas possam ser concretizadas, sobretudo as que versam sobre o modelo adotado para o financiamento eleitoral, segundo Gilmar Mendes. “É difícil discutir o financiamento sem sabermos qual vai ser o modelo ou o sistema eleitoral, e isso precisa ser definido”, disse.
A importância do debate se traduz, para o ministro, na convicção dos artistas do movimento modernista, que diziam saber o que não queriam, mas não sabiam exatamente o que queriam. “Nós já sabemos o que não deu certo. E uma coisa que eu acho que não deu ou não está dando certo é esse sistema de lista aberta, com essa multiplicidade de partidos”, destacou.
Embora ultimamente a classe política não venha sendo bem avaliada pela população, o ministro Gilmar Mendes ressaltou que a solidez da democracia no Brasil em muito se deve à qualidade dos políticos brasileiros.
“Foi exatamente a qualidade da classe política brasileira que fez com que nós atravessássemos períodos muito difíceis dentro de um quadro de normalidade. Foi assim que se construiu a abertura. Foi com políticos que se construiu o processo constituinte. E tivemos um dos processos menos traumáticos, no que diz respeito a essa transição, que nos fez chegar até aqui dentro de um quadro de normalidade institucional”, ressaltou.
O futuro da democracia brasileira passa, de acordo com o presidente do TSE, pelo resgate da imagem dos políticos. “Temos que saber separar o joio do trigo. E ressaltar que não se realiza nem se desenvolve democracia sem política e sem políticos”, frisou. A indiferença, a crítica exarcebada, a incompreensão e a resistência contra a política podem levar a um desânimo com a própria democracia, alertou.
O ministro Gilmar Mendes concluiu sua palestra ressaltando que não há muito tempo disponível para que as reformas sejam implementadas, lembrando os princípios da anterioridade e da anualidade. “Essa reforma tem de ser realizada até setembro do ano que vem. Portanto, dependendo da complexidade da tarefa – e a tarefa não é muito simples –, o tempo urge e exige de nós imaginação institucional e vontade de fazer as mudanças”, finalizou.(TSE)

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