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O vale da Vale

As ações PN da Vale caíram em nove dos últimos 11 pregões, desde o trágico 5 de novembro em que a barragem de Fundão da mineradora Samarco se rompeu provocando morte e destruição. A empresa perdeu cerca de 13% do valor de mercado desde o acidente. Ela tem 50% da Samarco. A outra metade pertence a BHP. As mineradoras terão um passivo, que ainda não está dimensionado, decorrente do acidente.
A Vale já vivia uma fase de incertezas, provocada pela forte queda dos preços do minério de ferro. Os preços tiveram uma alta expressiva, mas agora as cotações têm caído. A empresa poderia ter se preparado melhor para a previsível queda, até porque, na fase de alta, os preços saíram de US$ 16 a tonelada, em 2004, para US$ 160, em 2011. O minério de ferro caiu agora a US$ 45, e a Vale avisou a investidores que US$ 39 é seu ponto de equilíbrio. Abaixo disso, haverá prejuízo no negócio.
Da perspectiva da companhia, e das seguradoras, é preocupante que não se consiga saber o tamanho do gasto com indenizações, multas e compensações ambientais. O quadro que se coloca é de perda continuada. Mesmo sem esse custo, no entanto, a Vale já estava numa situação complicada, amargando prejuízo em 2015. O que é espantoso, já que o boom foi exuberante, durou muitos anos e permitiu um salto impressionante no lucro da empresa.
O que acontece com a Vale acontece também com as outras duas grandes mineradoras mundiais, BHP e Rio Tinto. Todas estão sentindo os efeitos do fim do superciclo dos preços das commodities. O minério de ferro caiu por causa da desaceleração chinesa. Qualquer planejamento estratégico poderia ter previsto que isso aconteceria, já que a alta foi forte demais. Agora, há excesso de produção, de um lado, e queda no consumo.
Para lidar com esse cenário, a Vale vinha reduzindo os seus custos. Segundo apresentação da empresa feita em agosto, a despesa líquida da companhia já havia caído 51%, entre 2012 e 2014, de US$ 7,1 bilhões para US$ 3,5 bi. Ao mesmo tempo, a mineradora havia aumentado a produção em todos os segmentos do negócio. A de minério de ferro subiu de 135 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2013 para 160 milhões, no primeiro semestre deste ano. Também elevou a produção de níquel, carvão e cobre.
O problema é que isso tudo apenas atenua uma parte da queda dos preços. O valor de mercado da Vale, segundo dados da Economática, foi de R$ 275 bilhões em 2010 e em setembro deste ano estava em R$ 70 bilhões. Ou seja, os investidores estão vendendo papéis da empresa porque enxergam um cenário mais difícil para o negócio.
— A empresa está aumentando a produção e reduzindo custos, mas isso não compensa a queda dos preços, que é muito mais forte. Somente este ano, a redução está em torno de 35% — afirmou o analista-chefe da XP Investimentos, Ricardo Kim.
A nova dúvida é: quanto a Vale e a BHP terão que pagar pela tragédia ambiental provocada pela Samarco em Minas e no Espírito Santo? Como são as donas da Samarco, muito provavelmente uma parte da conta recairá sobre elas. Desde o acidente, os papéis PN da Vale caíram 13% na bolsa brasileira, enquanto o índice Ibovespa ficou no azul em 1%.
— Há uma enorme incerteza, e isso fez o papel da Vale se descolar do índice, com uma queda grande. Ninguém consegue precificar o que será gasto em multas e indenizações. Além disso, o setor de mineração será mais fiscalizado, as licenças serão concedidas com maior rigor e em prazos mais longos — afirmou Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos.
Nos últimos cinco trimestres, a Vale teve prejuízo líquido em quatro. A disparada do dólar aumenta os gastos com o pagamento de dívidas. Mesmo sendo a maior exportadora do país, com custos em reais e receitas em dólares, a alta do dólar tem efeitos negativos sobre o balanço da companhia.
Esse momento não é argumento, no entanto, para atenuar o custo das empresas com os prejuízos sociais e ambientais do acidente de Mariana. A Samarco será responsabilizada pelo que aconteceu em Minas e no Espírito Santo, e isso rebaterá nas controladoras. A conjuntura difícil das mineradoras decorre de decisões empresariais equivocadas. Era claro que o boom acabaria um dia e que uma empresa com dívida em dólar tem que se proteger da variação cambial.(Blog da Miriam Leitão)

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