Líder diz que UNE pode voltar às ruas contra Dilma
Desde junho, a paulista Carina Vitral, de 26 anos, passou a dividir sua rotina entre aulas de Economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o acompanhamento de votações no plenário da Câmara dos Deputados e reuniões com o governo.
Corinthiana roxa (com direito a uma tatuagem discreta com o nome do time no antebraço) e fã de bandas latino americanas, Carina preside a União Nacional dos Estudantes (UNE), um dos movimentos sociais que fizeram coro, na última quinta-feira, contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A ideia, segundo Carina, era fazer um contraponto às passeatas realizadas no dia 16 de agosto, quando 790 mil pessoas protestaram contra o governo atual.
“Não é que as manifestações do dia 16 foram de ‘Fora Dilma’ e essa agora seja um ‘Fica Dilma’”, diz ela. “A passeata não é para defender o governo, mas para defender a legitimidade da democracia, de uma escolha do povo”.
Em São Paulo – cidade que teve a maior concentração – 40 mil pessoas participaram dos atos, segundo a Polícia Militar. A estimativa dos organizadores é que foram 100 mil pessoas.
Essa não é a primeira vez que a UNE participa de protestos que envolvem o impeachment de um presidente. Em 1992, a entidade defendeu a saída do presidente Fernando Collor de Mello do poder.
Hoje, atua numa situação oposta. “Não há indícios do envolvimento da presidente Dilma com corrupção. O dia em que [ela] se envolver, nós vamos para rua [defender o impeachment], mas não é o caso agora”.
Veja trechos da entrevista que Carina concedeu a EXAME.com.
EXAME.com: O que motivou a participação da UNE nas manifestações?
Carina Vitral: Queremos fazer um contraponto às passeatas do dia 16 de agosto [manifestações contra o governo Dilma]. Não no sentido de que as passeatas do dia 16 foram um “Fora Dilma” e essa agora seja um “Fica Dilma”, não é essa a polarização. Ela é um contraponto das ideias.
No dia 16, você via, além do “Fora Dilma” uma série de pedidos de retrocesso. É “Fora Dilma” porque não se aceita as cotas. É “Fora Dilma” porque não se aceita que uma universidade, como a PUC, tenha milhares de bolsistas. É “Fora Dilma” não pelo o que o governo errou, mas pelo que ele acertou.
A primeira das nossas motivações é a defesa da democracia. Nós da UNE, que já derrubamos um presidente da República através de um impeachment, sabemos que para um processo desse [tipo] é preciso ter um crime de responsabilidade.
Hoje não há qualquer índicio, qualquer acusação contra a presidenta Dilma. Se [a Dilma] for derrubada, teremos um golpe, não será um impeachment propriamente dito, que é um instrumento da democracia.
A passeata também quis divergir dos rumos que o governo tem tomado para resolver a crise econômica mundial.
É uma crítica clara e contundente ao ajuste fiscal – que afetou a área da educação ao cortar 10 bilhões de reais. Essas medidas acabaram prejudicando as bolsas de pós-graduação, os orçamentos das universidades federais e o Fies.
Entre os movimentos sociais há um consenso no discurso que será usado nas ruas?As organizações que participam do ato são bem diversas. Isso é bem positivo. Se fosse para levar para as ruas só quem defende o PT, era só o partido convocar sua militância. Não cabe aos movimentos sociais defender as práticas de um partido.
Há muitos posicionamentos diferentes entre os organizadores, mas, mesmo entre os que são mais críticos, há a ideia de que é inegável os recentes avanços. Não reconhecer isso é negar a realidade.(Exame)