Poluição marítima em Ilha de Maré
A falta de tratamento de esgoto e a movimentada atividade industrial, química e petrolífera que cerca a Ilha de Maré são apontadas por moradores como os elementos responsáveis pela poluição marítima que atinge a comunidade quilombola.
Separado do restante da capital pelas águas da Baía de Todos-os-Santos, o povoado soteropolitano não possui saneamento básico. Lá, dejetos sanitários são derramados diretamente no mar. A situação só não é pior porque alguns imóveis – sobretudo os comerciais – possuem fossas.
Somado a isso, as indústrias do Porto de Aratu e a Refinaria Landulpho Alves, da Petrobras, despejam substâncias que contaminam o pescado segundo os moradores.
O resultado é uma verdadeira dizimação de peixes, mariscos e demais frutos do mar. Antes fartos, camarões, siris, ostras e outros são produtos cada vez mais difíceis de se achar na comunidade, o que vem provocando uma redução na pescaria da região.
Dificuldade
O pescador Valnei Maciel, 61 anos, trabalha no ofício há mais de cinco décadas, sempre em Ilha de Maré. Segundo ele, de lá para cá, o resultado da atividade já não é o mesmo. Se antes pescava 15 quilos “com facilidade”, atualmente consegue quatro, “com muito trabalho”, afirma.
“Os meninos de 12, 13 anos que começam a pescar não conhecem muitos peixes, porque eles deixaram de existir”, relata o ancião à equipe de A TARDE, após mais um dia de jornada no mar.
Contatadas para comentar as denúncias, a Petrobras e a Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba) – responsáveis pela Refinaria Landulpho Alves e pelo Porto de Aratu, respectivamente – afirmaram que obedecem “rigorosamente” as determinações ambientais impostas pela lei vigente.
“A Refinaria Landulpho Alves mantém um rigoroso monitoramento de seus efluentes tratados, que são analisados segundo frequência e parâmetros estabelecidos e controlados pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado da Bahia (Inema)”, diz o pronunciamento da estatal brasileira.
Além da poluição marítima, a falta de investimento na infraestrutura de Ilha de Maré – como o tratamento de esgoto – atinge os moradores da comunidade de diversas outras formas.
Cenas chocantes
Adultos e crianças, por exemplo, têm a saúde comprometida por causa dos dejetos, que correm ao ar livre entre as casas antes de desaguar no mar. Na localidade de Santana, uma das mais pobres do povoado, é chocante ver cenas como a de um porco andando em meio a fezes e lixo.
Segundo o pescador Evandro Duarte, 61, a situação é agravada em época de chuva, pois o esgoto transborda e resíduos invadem ruas e casas. “É assim em todas as localidades da ilha que eu já fui. Até as mais turísticas, como Botelho e Neves, passam por isso”, diz.
Doenças como leptospirose, transmitida por água ou alimento infectado pelo xixi de rato, afirma, são comuns.(A Tarde)