Emancipação da política
O Brasil chega a 200 anos de sua emancipação política sem
conseguir fazer a emancipação de sua política.
conseguir fazer a emancipação de sua política.
Nossa política está prisioneira do elevadíssimo custo de
campanha, que amarra a eleição à disponibilidade de recursos financeiros.
Conforme o TSE, em 2014 foram gastos cerca de R$ 74 bilhões por 25 mil
candidatos. Para 1.689 eleitos, o custo foi de cerca de R$ 3 milhões por
candidato, R$ 43,8 milhões por eleito, mais de R$ 500 por eleitor.
campanha, que amarra a eleição à disponibilidade de recursos financeiros.
Conforme o TSE, em 2014 foram gastos cerca de R$ 74 bilhões por 25 mil
candidatos. Para 1.689 eleitos, o custo foi de cerca de R$ 3 milhões por
candidato, R$ 43,8 milhões por eleito, mais de R$ 500 por eleitor.
Por causa deste elevado custo, a política está prisioneira
do sistema de financiamento. O candidato precisa ter acesso a fontes que
amarram os eleitos, comprometendo-os com os interesses dos financiadores.
do sistema de financiamento. O candidato precisa ter acesso a fontes que
amarram os eleitos, comprometendo-os com os interesses dos financiadores.
A terceira amarra são os institutos de pesquisas e os
marqueteiros. Os primeiros dizem o que o candidato deve falar; os outros como
falar, qual a mídia a ser utilizada, a mentira a ser construída. Os institutos
também amarram os eleitores ao apresentar resultados que indicam vencedores
antes da data.
marqueteiros. Os primeiros dizem o que o candidato deve falar; os outros como
falar, qual a mídia a ser utilizada, a mentira a ser construída. Os institutos
também amarram os eleitores ao apresentar resultados que indicam vencedores
antes da data.
Esta eleição mostrou que estamos prisioneiros da mitologia
de que alguns são de esquerda e outros de direita, quando na realidade as
coligações e os partidos são todos igualmente desideologizados.
de que alguns são de esquerda e outros de direita, quando na realidade as
coligações e os partidos são todos igualmente desideologizados.
Uma quinta prisão são os programas assistenciais que amarram
os votos de seus beneficiários aos candidatos que conseguem se apropriar da
paternidade do programa e dá garantia de que ele será mantido. O
assistencialismo amarra os opositores ao risco de que, se eleitos, paralisarão
o programa, e aos situacionistas porque se transformam em partidos que dependem
da continuação da miséria para conseguirem os votos que precisam. A emancipação
dos pobres emanciparia a política, desmoralizando os donos dos programas
assistencialistas.
os votos de seus beneficiários aos candidatos que conseguem se apropriar da
paternidade do programa e dá garantia de que ele será mantido. O
assistencialismo amarra os opositores ao risco de que, se eleitos, paralisarão
o programa, e aos situacionistas porque se transformam em partidos que dependem
da continuação da miséria para conseguirem os votos que precisam. A emancipação
dos pobres emanciparia a política, desmoralizando os donos dos programas
assistencialistas.
Sexta prisão é o silêncio dos intelectuais, paralisados na
reverência ao poder, incapazes de oferecer alternativas que sirvam de base a
propostas de reformas sociais que, ao emancipar o povo, emanciparia a política.
reverência ao poder, incapazes de oferecer alternativas que sirvam de base a
propostas de reformas sociais que, ao emancipar o povo, emanciparia a política.
Sétima amarra é a cooptação, por compra de agentes
políticos, como no caso do mensalão, ou por financiamento e beneficiamento a ONGs,
sindicatos e associações.
políticos, como no caso do mensalão, ou por financiamento e beneficiamento a ONGs,
sindicatos e associações.
A oitava prisão é o aparelhamento do Estado pelo partido no
poder. Pela tradição de tratar o Estado como propriedade das elites no poder,
cada vez que muda o governo costuma-se nomear dezenas de milhares de pessoas
para empregos públicos, aprisionando a política à necessidade de sobrevivência
dos servidores empregados, dependentes da continuidade.
poder. Pela tradição de tratar o Estado como propriedade das elites no poder,
cada vez que muda o governo costuma-se nomear dezenas de milhares de pessoas
para empregos públicos, aprisionando a política à necessidade de sobrevivência
dos servidores empregados, dependentes da continuidade.
Se quisermos emancipar a política, antes do segundo
centenário da emancipação política, serão necessárias duas ações. A primeira é
uma revolução educacional que permita emancipar o povo de dependência de
auxílios, para que o eleitor possa votar sem dever favor ao partido no poder.
centenário da emancipação política, serão necessárias duas ações. A primeira é
uma revolução educacional que permita emancipar o povo de dependência de
auxílios, para que o eleitor possa votar sem dever favor ao partido no poder.
A segunda é uma reforma radical na maneira como a política é
feita, derrubando cada uma das amarras.
A primeira depende de tempo, a segunda da vontade dos eleitos amarrados.
Por isso, dificilmente haverá tempo para emancipar a política, antes do
bicentenário da emancipação política.
feita, derrubando cada uma das amarras.
A primeira depende de tempo, a segunda da vontade dos eleitos amarrados.
Por isso, dificilmente haverá tempo para emancipar a política, antes do
bicentenário da emancipação política.
Por Cristovam Buarque