Alta do IOF derruba cartão pré-pago em 76%
As casas de câmbio passaram a oferecer vantagens na compra de moeda estrangeira com cartão pré-pago. Mas nem assim conseguiram conter a fuga de clientes para o papel-moeda. Dois meses após o governo anunciar o aumento no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para 6,38%, em dezembro, o volume carregado despencou 76%.
Os dados de fevereiro são os mais recentes disponibilizados pelo Banco Central (BC) até o momento. No período, o valor total em moeda estrangeira colocado como crédito no pré-pago caiu de R$ 278 milhões (em dezembro, mês anterior a alta do IOF) para R$ 65 milhões. Em fevereiro de 2013, esse volume havia sido de R$ 564 milhões – uma diferença de 88%.
Por outro lado, a venda de moeda em espécie cresceu 10% um mês após a alta do imposto, movimentando R$ 772 milhões. Já o uso do cartão de crédito no exterior – tanto à vista quanto parcelado – subiu 9% no mesmo período, mesmo com a alíquota de IOF idêntica ao pré-pago, de 6,38%.
“Acho um abuso a cobrança de IOF e só carregaria no cartão de novo se houvesse um desconto que compensasse o imposto. Não vale a pena nem pela segurança”, conta.A relações públicas Natália Araújo Pila, de 28 anos, abandonou o hábito de gastar com cartão no exterior. Com viagem marcada para os Estados Unidos, ela trocou o pré-pago por notas de dólar, que pretende guardar em um cofre do hotel.
Já a empresária Thais Gonzales, de 28 anos, diz que ainda prefere o pré-pago, mesmo com a alta do IOF. Ela e o marido vão viajar para a Costa Oeste dos EUA e pretendem levar 85% do dinheiro no cartão e o restante em espécie.
“Vamos usar o pré-pago por causa da segurança. E quando digo segurança, é no Brasil mesmo. Temos medo de assalto antes de chegar ao aeroporto”, comenta.
Vantagens não impedem queda na procura
Na Tov Corretora, o câmbio cerca de R$ 0,02 mais barato para o dólar carregado no pré-pago não impediu uma queda em torno de 70% no volume diário vendido no cartão.
“Por mais que se ofereçam algumas vantagens, o cliente prefere correr o risco de ser roubado [com dinheiro em espécie] ou sofrer a variação cambial [do cartão de crédito] do que carregar no pré-pago”, diz o gerente de câmbio da empresa, Jair Bueno.
Na distribuidora de câmbio Cotação, do Banco Rendimento, a proporção de vendas com pré-pago e dinheiro vivo passou de 50% para 30% e 70%, respectivamente, após o aumento do imposto. Para aumentar a atratividade do produto, o desconto que antes era de 0,5% sobre o valor carregado no cartão subiu para 1%. A corretora também agilizou o carregamento em no máximo 20 minutos, de qualquer parte do mundo.
“Antes nem precisávamos fazer muito esforço para vender o cartão pré-pago. Agora, temos que enfatizar os benefícios embutidos, como a segurança e praticidade”, diz o executivo.Mas somente as empresas que pagam viagens de funcionários e pais de estudantes mantiveram a fidelidade com o pré-pago, ao contrário do turista que viaja a lazer, como conta o diretor da Cotação, Alexandre Fialho.
O custo maior da moeda em espécie para as corretoras também pressiona a margem de lucro, na medida em que aumenta a demanda por dinheiro vivo. Na Cotação, que possui 63 lojas em vários Estados, os custos com logística cresceram, assim como a necessidade de estoque.
A Confidence Câmbio relatou uma queda em torno de 20% na procura pelo pré-pago após a alta do IOF. O diretor da empresa, Juvenal Marcelo dos Santos, assegura no entanto que houve uma sensível recuperação da demanda pelo produto na segunda metade de março.
“Ainda vai levar algum tempo para o turista assimilar esse aumento e perceber que está pagando mais por um recurso com segurança e conforto que a moeda em espécie não oferece”, diz.
(IG)