A eloquência do silêncio
Às vezes, o silêncio é mais eloquente que o discurso. Essa parece ser a avaliação de pelo menos uma parte do mercado com a supressão da expressão “limitações no campo da oferta” na ata de julho do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada na última quinta-feira. Se essa corrente de opinião estiver certa, o crescimento da economia pode estar comprometido este ano – e talvez não seja nada brilhante em 2014.
Explico: até agora, uma justificativa importante para a subida da taxa Selic era o fato de a economia estar operando muito próximo da máxima utilização da capacidade instalada, o que às vezes os economistas se referem como “PIB potencial”. Nessa circunstância, um aumento na demanda não seria capaz de acelerar o ritmo de crescimento do PIB e somente sustentaria a inflação em um patamar superior ao centro da meta.
Nas atas anteriores, o Banco Central indicava que, apesar das limitações no campo da oferta que poderiam funcionar como fonte de pressão inflacionária, a economia cresceria em linha com o crescimento do PIB potencial. Aparentemente, o BC estaria agora sinalizando que a atividade econômica ficará abaixo de sua estimativa da taxa de crescimento do PIB, em torno de 3% ao ano.
Faz sentido? Uma interpretação alternativa para a omissão da frase “limitações no campo da oferta” é a de que o limitador de um maior crescimento do PIB estaria agora do lado da demanda. Entretanto, se estiverem certos os adeptos dessa interpretação, o aumento da taxa de juros contribuiria para reduzir ainda mais a demanda, frustrando as expectativas de retomada do crescimento do PIB no curto prazo.
A dificuldade em aceitar essa interpretação alternativa reside justamente no insucesso das políticas voltadas para o aumento da demanda postas em prática nos últimos dois anos. Como não faltaram estímulos de natureza fiscal, uma terceira interpretação para a manutenção do baixo crescimento em 2012 e 2013 pode estar na queda do PIB potencial.
Se assim for, a razão para essa queda está na redução do investimento, tanto público como privado. Sem investimento não há crescimento – e estamos investindo hoje, como proporção do PIB, menos do que investíamos no período áureo do crescimento econômico brasileiro.
Mais do que isso: o investimento público é complementar do investimento privado e a expansão de ambos vem se reduzindo. Alguns atribuem a queda nos investimentos públicos à Constituição de 1988, com a sua infinidade de despesas permanentes, especialmente na área social.
A opção por ampliar os programas sociais agravou o problema da falta de recursos para o investimento público. O aumento recente da carga tributária não foi suficiente para atender as novas demandas e sustentar a inversão pública. Com isso, a rentabilidade dos investimentos privados foi afetada, já que a falta de investimentos na infraestrutura aumenta custos para as empresas.
Diversos fatores justificariam o pouco apetite do setor privado para ampliar o investimento. Empresas investem quando vislumbram um conjunto de condições que tornem a ampliação da capacidade produtiva rentável e sustentável. Contudo, tanto as expectativas com relação ao quadro externo como interno, não têm contribuído para a formação de expectativas positivas.
No quadro externo, vai ficando claro que as mudanças em curso podem ser mais maléficas do que benéficas para o País. A economia chinesa está desacelerando, talvez de forma mais rápida do que anteriormente antecipado.
Essa desaceleração já está se refletindo na redução dos preços das commodities e impactando negativamente o balanço de pagamentos. A Associação de Comércio Exterior do Brasil reviu recentemente sua projeção para a balança comercial desse ano, projetando um déficit de dois bilhões de dólares – em lugar dos expressivos superávits dos últimos anos.
A economia americana parece estar a caminho da recuperação, contando daqui para a frente com da e as perspectivas de uma oferta de energia ampla e barata. Se assim for, a economia dos Estados Unidos pode tornar-se novamente um polo de atração de investimentos e o aporte de poupança externa à economia brasileira pode reduzir-se de forma significativa. Nessa circunstância, ficará mais difícil financiar o déficit em conta corrente de nosso balanço de pagamentos.
Finalmente, pouco progrediu a agenda de reformas, timidamente iniciada no primeiro governo do presidente Lula e abandonada depois da saída do ministro Palocci do ministério.
É esse conjunto de fatores que mantém baixo o investimento e a retomada do crescimento. Resta saber o que realmente quis dizer o BC ao suprimir as “limitações no campo da oferta” de sua ata.