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Dados viciados

É consenso entre analistas políticos e econômicos que a perda de prestígio da presidente Dilma Rousseff e a diminuição da avaliação de seu governo, retratadas nas mais recentes pesquisas de opinião –abertas ou para consumo interno do próprio governo e de partidos políticos – se deu na esteira da deterioração do ambiente econômico e das expectativas da população. A equação inflação com baixo crescimento começou a fazer barulho. Usando o agora já velho chavão do marqueteiro americano James Carville, foi a economia, estúpido!
As origens mais profundas desse desarranjo na ainda elevada avaliação presidencial – que pode ser temporário, repita-se – estão na política, mais propriamente na má política ou, mais propriamente ainda, na política e seu marketing eleitoral. A deterioração dos números econômicos, que estão puxando para baixo os números político-eleitorais de Dilma, é fruto de decisões econômicas postergadas ou tomadas de forma equivocada por meros cálculos de conveniência eleitoral.
Ea base de tudo está no não tão longínquo ano da graça de 2010. Depois de ter se safado galhardamente da turbulência financeira que assolou o mundo a partir do fim de 2008 –  não foi a “marolinha” que Lula imaginava para o Brasil mas também não foi “o tsunami” que atingiu boa parte do mundo – o governo, em lugar de dar uma freada para arrumação na economia nacional, pisou firme no acelerador, mantendo aquecidos os gastos públicos e aquecendo ainda mais o incentivo ao consumo. 
O objetivo era criar o ambiente de alegria nacional para ajudar a eleger presidente da República a então neófita em política Dilma Rousseff, uma aposta de Lula que muitos dos seus mais fiéis companheiros julgavam temerária. O sucesso foi total: o PIB nacional cresceu a chineses 7,5% e Dilma deu um passeio no oposicionista tucano José Serra, embora não no primeiro turno, como Lula desejava. Foi uma felicidade geral. É a política…
Mas como, para usar outro velho chavão econômico, não existe almoço grátis, a conta começou a ser cobrada. A inflação de 2011, um termômetro certamente infalível, ficou miraculosamente pendurada no limite superior da meta do Banco Central, de 6,5%. E o crescimento despencou para 2,7% – o primeiro dito “Pibinho” colhido por Dilma. 
Ainda em lua de mel com aliados e com as urnas, o governo continuou com seus gastos, com o incentivo ao consumo e com uma contabilidade cada vez mais criativa para mascarar o efetivo não-cumprimento das metas de superávit primário. Colheu em 2012 o que plantou: o “Pibinho” desceu mais ainda a ladeira, para 0,9% , e a inflação permaneceu desagradavelmente mal comportada.
Entrado o ano da graça de 2013 com o súbito e extemporâneo início, por Dilma e por Lula, da campanha presidencial de 2014, as conveniências político-eleitorais, que vinham marcando as ações do governo há algum tempo – veja-se a influência decisiva do marqueteiro João Santana no Palácio do Planalto e os seguidos pacotes de “bondades” lançados a rodo com pompa e circunstância – subiram definitivamente ao altar da política governamental. O dito tripé que sustentou a política econômica no governo FHC e, em parte, do governo Lula – meta de inflação, política fiscal austera e câmbio flutuante – somente passou a existir no papel e no discurso.
A meta passou a ser turbinar o crescimento, segundo anunciou ainda há poucos meses o influente secretário do Tesouro Nacional, Arno Agustin. Em pronunciamento infeliz – teve até de se explicar depois, sem convencer – a presidente Dilma disse na África do Sul que não sacrificaria o crescimento econômico ao combate à inflação. Equívoco econômico, pois crescimento com inflação é insustentável no longo prazo, e que cobrou seu preço ao governo.
Ficou claro em tudo isso, mesmo para os meio entendedores, que na verdade a meta do governo não era nem mesmo o crescimento – era a reeleição. As mudanças na economia externa vieram agora para expor toda esta política econômica determinada pelos sabores eleitorais.
Irá Dilma pagar alguns sacrifícios para botar a economia no rumo ou continuará apostando mais no ciclo eleitoral? Em alguns momentos, como agora, ambas as coisas são incompatíveis  pelo menos enquanto a física não encontrar a quadratura do círculo: uma decisão exige sacrifícios, a outra requer bondades.
 As primeiras amostras vindas da presidente, nesses dias de turbulências e desconfianças, não foram das melhores: ela abriu mais os cofres públicos e ampliou os incentivos ao consumo.
                                                                                                        (DC )Por José Márcio Mendonça

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