Turismo: destino em alta para guinada na vida profissional
Às vezes aquela canseira e insatisfação com o trabalho se cura com turismo. Para muitos brasileiros, não com uma viagem de lazer, mas com o trabalho no turismo.
Formada em pedagogia, há uns cinco anos Vera Lúcia Nascimento de Oliveira, de 57 anos, resolveu deixar a diretoria da creche que comandava em Pouso Alegre, em Minas Gerais. Já não dava mais para conciliar com as demandas da Veratur, a agência de viagens que ela fundou.
“Pouso Alegre era uma cidade pequena, onde as pessoas não tinham lazer, cultura. Hoje a população trabalha, ganha dinheiro para viajar. Viajar pela Veratur”, diz, piscando o olho.
Tamires Peres, sua filha e sócia no empreendimento, estava no meio do curso pré-vestibular à época para tentar se tornar médica. “Eu sempre quis fazer medicina, não queria turismo”, diz ela, que acabou indo fazer direito – não para advogar, mas para melhor gerir a empresa.
Desistir da carreira em um setor e partir para o turismo é uma história de vida comum entre profissionais hoje no setor ouvidos pelo iG . Uma transição que vem se tornando mais atrativa nos últimos anos no País: de R$ 228 bilhões em 2010, o setor atingiu movimentação financeira de R$ 250 bilhões no ano passado e, segundo estimativa do Ministério do Turismo, deve chegar a R$ 260 bilhões em 2013.
“Muitas agências nasceram de viagens que as pessoas fizeram. Elas gostaram do setor e decidiram se tornar empreendedores”, afirma Edmar Bull, vice-presidente nacional da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) – segmento que, prevê, deve ter um crescimento de 8 a 9% do faturamento neste ano em relação ao ano passado.
Vitor Sorano
Tamires Peres (esquerda) e a mãe, Vera Lúcia, sócias em uma agência de turismo
Lucas Martin, de 26 anos, voltou da tradicional viagem de formatura do ensino médio a Porto Seguro (BA) pensando nisso. Chegou a concluir o curso superior em publicidade, mas nem vai começar a trabalhar na área. “Sempre estive ligado ao turismo. Já trabalhava com monitoria e agora vou abrir uma franquia, daqui a um mês ou dois, em Bauru (interior de São Paulo)”, diz ele. “Vale a pena investir, o Brasil está sendo visto como potência turística”, avalia.
Entediada com a vida no banco, Sônia Estela Mendes, de 40 anos, ainda lembra de quando resolveu, enfim, escolher outra carreira. “Percebi que queria conhecer o mundo e não tinha condições financeira para isso. Jamais conseguiria passar o meu aniversário de 15 anos na Disney, mas passei o de 27 anos lá”, relembra a empresária, proprietária da Sonitur, de Ribeirão Preto (SP).
Além do fascínio, outro estímulo é o investimento inicial relativamente baixo, segundo o vice-presidente da Abav – são bastante comuns os empreendimentos em sistema de home office, por exemplo, o que reduz o custo. E há um amplo espaço a ser ocupado no país. “Se só 10% da nossa população viaja, quanto temos para crescer?”, pergunta Bull. “Há mercado para todos.”
Passo a passo
Uma dica é iniciar uma atividade no setor com o atendimento a todos os segmentos – negócios, lazer, rodoviário, marítimo – e só depois especializar-se. “Assim o empreendedor pode ver em qual ramo gosta mais de atuar”, diz o empresário. A principal atenção deve ser com a tomada de crédito para tocar o negócio e com o oferecido aos clientes finais.
Há também carência de formação na área, diz Bull. “O pessoal não entra mais na agência para pegar folheto (de destino turístico), mas sim para resolver a venda”, sugere.
Neste ano, o Senac São Paulo lançará três cursos de extensão, em parceria com a Cornell University, para profissionais na área de área de alta gestão.
Cássio Santos Oliveira, consultor do Sebrae-SP, lembra que a Copa do Mundo deverá ser não só um ponto alto, mas também um gatilho para um período positivo para o setor como um todo.
“As agências de turismo receptivo terão muitas oportunidades pois vão conseguir vender os seus produtos regionais (durante o evento)”, exemplifica. “O turismo vai ter grandes oportunidades a partir da realização da Copa de 2014”, diz.
Oportunidades
Crescimento do emprego em ramos do turismo e no conjunto da economia (em %, 2012)
Fonte: CNC
Novo emprego
A guinada na carreira para o turismo também é comum entre empregados. “Muitos se formam em fisioterapia, direito, línguas. Aí veem que não é o que querem e vão trabalhar numa agência de viagem”, diz Irma Karla Barbosa, da Federação Nacional de Guias de Turismo (Fenagtur).
Há 30 anos, Leopodina Gomes, com doutoramento em línguas, decidiu abandonar a carreira de professora de português começou a trabalhar numa agência na cidade de Santos, no litoral paulista. “Os alunos não querem saber de estudar”, argumenta. Na última quinta-feira (20), aos 73 anos, era uma dos milhares de agentes que abarrotavam sacolas e malas com panfletos e outros materiais publicitários de hotéis, resorts, locadoras de automóveis e destinos durante uma exposição do setor em São Paulo.
Lucélia Nagata, de 30 anos, é mais uma que trocou as salas de aula pela venda de pacotes de viagem. Já começou a fazer faculdade de turismo. “Não me identifiquei muito com o ensino e encontrei uma nova área mesmo”, diz . Ao lado dela, Renata Medeiros, de 25 anos, conta que abandonou a fisioterapia. “Ia ter de trabalhar de madrugada e ganhar a mesma coisa. Quando comecei em turismo, nunca havia saído do país”, diz.
No ano passado, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o emprego em agências de viagem e em serviços culturais, esportivos e demais tipos de lazer cresceu respectivamente 4,9% e 6%, respectivamente, enquanto a média nacional ficou em 3,4%.(IG)