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Dez anos do Caderno Especial da Consciência Negra

Valdemiro Lopes
A luta contra o racismo não é exclusiva do movimento negro, ainda que ele assuma o papel de protagonista. Longe disso, deve ser abraçada por aliados e parceiros de todos os segmentos da sociedade. E é nesse contexto que a vereadora e ouvidora-geral da Câmara Municipal de Salvador, Olívia Santana (PCdoB), vê a importância de um jornal tradicional como o A Tarde, com 100 anos de história, manter, por 10 anos consecutivos, um caderno especial pelo Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. 
Para marcar a data, ela e o colega Gilmar Santiago (PT) promoveram sessão especial, quarta-feira (5) à noite no Plenário Cosme de Farias, quando homenagearam a equipe de jornalistas responsável pela publicação, liderada por Cleidiana Ramos. “Sabemos que estamos longe de ter uma imprensa verdadeiramente democrática, aberta aos jornalistas negros. E por isto mesmo temos que celebrar estas conquistas”, argumentou Olívia. O caderno, segundo ela, aborda aspectos da história e cultura afrobrasileira, abrangendo cultura, economia, arte e religião. “A história é feita por quem a escreve. Que bom que vocês assumiram a missão de fazer esse caderno!”, declarou.
Para Gilmar Santiago, o caderno especial de A Tarde deveria inspirar outras publicações a adotarem o exemplo. “Em um estado como o nosso, em que os meios de comunicação sempre estiveram nas mãos da elite, dos herdeiros da Casa Grande, que contam a história de acordo com seus interesses, esta é uma conquista que não pode ser minimizada”, pondera o vereador.
Cota é justiça
O presidente da Câmara, vereador Pedro Godinho (PMDB), dirigiu o evento e parabenizou Olívia e Gilmar pela iniciativa. Ele fez questão de ressaltar a preocupação da equipe de jornalistas em produzir um caderno com uma proposta editorial diferenciada, “que funciona como uma ferramenta didática a ser utilizada como fonte de pesquisa para as escolas”.
A jornalista Cleidiana Ramos, editora do caderno desde o primeiro número, falou em nome do jornal e da equipe e fez questão de frisar que a publicação é uma construção coletiva. Tanto, que a placa comemorativa foi entregue ao grupo, formado ainda pelas jornalistas Meire Oliveira (subeditora), Maíra Azevedo, Camilla França e Ivana Dorali, além do único homem da equipe, Juracy dos Anjos.
“A informação é um elemento fundamental para o combate ao racismo. Muitas pessoas agem de forma racista por falta de informação. E por isso mesmo temos que celebrar o Dia da Consciência Negra e a manutenção deste caderno, pois podemos dizer que lá (na editoria) nós criamos uma escola de jornalismo com responsabilidade social, com jornalistas que entenderam o significado do seu Código de Ética, de batalhar pela igualdade de direitos para todos”, disse Cleidiana emocionada. 
Segundo a jornalista, durante todo o ano os negros são relegados às reportagens que revelam a opressão no mercado de trabalho, a banalização da violência ou a exploração das mulheres. Cleidiana finalizou o discurso defendendo a política de cotas para negros nas universidades: “Não é benefício, é justiça!”.
O cantor Mateus Aleluia emocionou a todos cantando “Lágrimas do Sul”, de Milton Nascimento. Apresentaram-se no evento, também, as cantoras Cláudia Costa e Andréia Nery. A mesa foi composta, ainda, pelo diretor-geral do Irdeb, Póla Ribeiro; pelo representante da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, Caruso Costa; pelo secretário municipal da Reparação, Ailton Ferreira; e pelo professor Jaime Sodré. Presentes, também, os vereadores Vânia Galvão (PT) e Odiosvaldo Vigas (PDT) e os eleitos Sílvio Humberto e Fabíola Mansur, ambos do PSB.

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