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Cúpula sobre planejamento familiar renova esperanças

c17 257x300 Cúpula sobre planejamento familiar renova esperançasA cúpula sobre planejamento familiar que acontece hoje em Londres tratará de comprometer mais recursos dos governos para salvaguardar os direitos reprodutivos das mulheres, segundo o diretor executivo do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), o nigeriano Babatunde Osotimehin. Segundo informou à IPS, a reunião pretende dar maior visibilidade ao tema e mobilizar vontades políticas e recursos adicionais para oferecer métodos de planejamento familiar a mais 120 milhões de mulheres até 2020.
“Creio que o impulso mundial que criará será bom para que mulheres e adolescentes possam exercer seu direito de planejar suas vidas”, disse Osotimehin à IPS por telefone. “Já era hora”, acrescentou. O UNFPA uniu-e ao governo da Grã-Bretanha e à Fundação Bill e Melinda Gates, junto com outros sócios, para organizar a cúpula e trabalhar para essa finalidade, informou Osotimehin.
Na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) o grupo de mulheres expressou sua desilusão com o documento final. “Estamos indignados pelo fato de os governos não terem reconhecido os direitos reprodutivos como um aspecto central da igualdade de gênero e do desenvolvimento sustentável no documento final”, diz um comunicado do grupo que reuniu cerca de 200 organizações de mulheres da sociedade civil.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 222 milhões de mulheres no Sul em desenvolvimento desejariam contar com métodos de planejamento familiar, mas não podem ter acesso a eles por várias razões, entre as quais questões culturais e falta de recursos humanos e econômicos. O UNFPA estima que ainda são necessários US$ 4,1 bilhões por ano para cobrir as necessidades de métodos anticoncepcionais modernos nos países em desenvolvimento.
Osotimehin disse que a organização pede urgência aos doadores e aos países-membros da ONU para contribuírem no sentido de se alcançar essa quantia. “Identificamos 69 países com as maiores necessidades, e esperamos que a cúpula possa arrecadar os fundos necessários para eles”, destacou. O UNFPA disse que gasta 25% de seus fundos com programas destinados a “ajudar os governos a comprar métodos de planejamento familiar e melhorar seus serviços reordenando suas prioridades”. A agência prevê aumentar este gasto para 40%.
Para concentrar maior atenção, a reunião de Londres coincide com o Dia Mundial da População, que será destinado a conscientizar sobre como administrar um mundo com sete bilhões de pessoas, uma cifra que, se for mantida a tendência atual, se prevê que aumentará pra nove bilhões em 2050. “A cúpula chamará a atenção para o fato de que a taxa de crescimento populacional não é inevitável, e isto é extremamente importante”, disse Neil Datta, secretário do Fórum Parlamentar Europeu sobre População e Desenvolvimento, uma rede política com sede em Bruxelas que participará do encontro.
“O que acontece em termos de crescimento populacional está em grande parte influenciado ou determinado por nossas próprias ações. E estas, também relacionadas com o consumo, têm um impacto sobre o futuro de nosso planeta”, afirmou Datta à IPS. “Nossa tarefa, enquanto rede parlamentar, será garantirmos que haja vontade política para apoiar o financiamento de planejamento familiar nos próximos anos”, pontuou. Um dos objetivos declarados da Fundação Gates é ajudar as pessoas a se “livrarem da assistência”, e o maior acesso a métodos de controle da natalidade é uma forma de conseguir isso, segundo Melinda Gates, mulher de Bill Gates, fundador da Microsoft.
“Se as mulheres têm acesso a métodos anticoncepcionais, podem salvar sua própria vida, porque sabemos que diminuirão as mortes durante o parto e também crianças serão salvas”, ressaltou Melinda Gates em uma conferência sobre desenvolvimento realizada em Paris no começo deste ano. O objetivo da ajuda é que os países sejam capazes de oferecer os serviços e os produtos corretos para seu povo, afirmou Melinda naquela ocasião. “Isto é o que leva à sustentabilidade, e é quando uma sociedade pode seguir adiante por si só”, acrescentou.
Osotimehin afirmou que alguns países mostraram que as práticas culturais e religiosas não são desculpas para negar às mulheres acesso a métodos de planejamento familiar. “Quero dizer que as estratégias de maior sucesso já vistas aconteceram no que pareciam ser países muito religiosos”, enfatizou, mencionando o Brasil, um país de grande tradição católica, e o Irã, de fé islâmica, como duas nações com programas de planejamento familiar progressistas.
“Trata-se do contexto, de trabalhar com os atores no terreno e com as comunidades para que entendam que o planejamento familiar é uma força liberadora que potencializa as mulheres a tomarem decisões em suas vidas, que também ajuda a diminuir as mortes maternas”, observou Osotimehin. “Não creio que alguma comunidade no mundo possa estar contra isso”, acrescentou.
Além de mobilizar a comunidade, são importantes as reformas legais e os incentivos econômicos para “retificar a discriminação social e a injustiça econômica” contra mulheres e meninas, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), com sede em Paris. Em seu último Índice de Instituições Sociais e Gênero, a entidade diz que “a autonomia reprodutiva das mulheres é limitada”, pois nos países emergentes e em desenvolvimento uma em cada cinco não tem acesso a serviços de planejamento familiar. (Envolverde/IPS)

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