Guerreira Zeferina completou cinco anos proporcionando dignidade às famílias
Foram 14 anos de uma moradia subumana. Há cinco anos, a localidade conhecida como Cidade de Plástico – referência à lona que servia de teto para os barracos feitos de madeirite – se transformou no Conjunto Habitacional Guerreira Zeferina. Dez prédios foram erguidos em uma área com mais de 20 mil m², incluindo 20 moradias adaptadas para pessoas com deficiência, ao lado da Estação de Trem de Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador.
Nesta quinta-feira (6), as 257 famílias que lá residem comemoram a passagem de cinco anos do capítulo de uma nova vida. As primeiras 125 famílias receberam as chaves em abril de 2018, quando a primeira etapa das obras foi entregue durante as comemorações do aniversário de Salvador. Em janeiro do ano seguinte, as 132 moradias restantes, pertencentes à segunda etapa da intervenção, foram ocupadas.
Residente da Comunidade de Plástico desde o início da ocupação, a recicladora Georgina Maria Oliveira, 65 anos, foi uma das primeiras beneficiárias a receber as chaves do imóvel. Ao conversar com a reportagem, a voz embarga ao descrever como foi a sensação de abrir a porta do apartamento 102, no bloco A, onde vive com o esposo e o neto. “Foi como sair do lixo ou luxo. Vivia em um barraco todo de plástico, em dias de sol forte a lona preta derretia, cozinhava de lenha e fazia as necessidades no jornal”, recorda.
O irmão de Georgina, que fazia parte da ocupação, também foi agraciado com um apartamento no conjunto. “Eu e minha família só temos a agradecer. Sou muito feliz aqui no meu cantinho. Sou grata demais. Chorei e agradeci, até hoje choro quando lembro. Para mim foi o maior presente que ganhei na vida”, considera a moradora, que ainda participa de cursos profissionalizantes que são ofertados na comunidade. “Já aprendi o ofício de baiana de acarajé e tomei curso de liderança”, comenta.
Educação – Para possibilitar que pais e mães possam trabalhar, a Escola Municipal Guerreira Zeferina, creche e pré-escola, foi construída dentro do conjunto habitacional. Com 830 m², a unidade de ensino atende até 130 crianças da comunidade em turno integral. Diretora da unidade desde a sua fundação, Ana Beatriz Gonzaga ressalta a importância do trabalho feito ao longo desses cinco anos.
“Temos uma parceria com a comunidade. Nossa atuação visa destacar a importância da família e entender o papel fundamental da educação, que começa em casa e é oportunizada na escola. Ao longo desses cinco anos temos mantido essa linha e com certeza nessa quinta temos muito a comemorar”, destaca a gestora, salientando a criação do projeto “Seja mais um na rede de apoio”, que trabalha de forma intensa a participação da família na vida escolar.
A autônoma Tainá Carneiro, 28 anos, é mãe de uma criança autista que começou a estudar neste ano. “A equipe aqui é maravilhosa. Além da estrutura especial, os profissionais acolhem a gente de uma forma muito especial. Tive medo de colocar minha filha na escola, mas hoje me sinto segura porque sei que aqui ela é cuidada e protegida”, disse a mãe, que logo cedo deixa a pequena e segue para ganhar o sustento da família.
A unidade escolar funciona em um prédio com dois pavimentos, dez salas de aula, três salas de descanso, diretoria, secretaria, sanitário, solário, playground, cozinha, despensa, espaço para freezer, lavanderia e área de serviço.
Investimento municipal – A reurbanização da Comunidade Guerreira Zeferina teve início em agosto de 2016, e contou com recursos próprios da Prefeitura. Além das moradias e escola, a estrutura conta ainda com um campo de futebol, centro comunitário, miniquadra, boxes comerciais, espaço de convivência e lazer, calçadão de acesso à praia, deque e estacionamento.
Além da intervenção urbanística, durante as obras os moradores tiveram acompanhamento social que englobou ações como auxílio na relocação de famílias, concessão de Aluguel Social e até mesmo cursos de capacitação profissional para que as pessoas tivessem a oportunidade de garantir o próprio sustento. As capacitações possibilitaram, por exemplo, que alguns moradores pudessem ser contratados para trabalhar na própria obra de construção do conjunto.
Com coordenação geral da Casa Civil, a intervenção na localidade teve o projeto urbanístico desenvolvido pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e participação de diversos órgãos municipais na execução. Tudo foi feito em diálogo com os próprios moradores.
Documentário – A história de transformação da localidade está registrada no documentário “Zeferinas – Guerreiras da Vida”, lançado pela Prefeitura em 2019. A obra audiovisual traz o relato de quatro mulheres – Cassileide, Vanda, Tâmara e Miriã – que viveram na antiga Cidade de Plástico e passaram a ser moradoras do conjunto habitacional. O filme é uma realização do poder público municipal, com produção da agência Propeg e dirigido por Marcio Cavalcante.
Em quase 30 minutos de duração, a narrativa faz um elo entre a história de superação do presente e a da líder quilombola que lutou pela liberdade no Subúrbio Ferroviário, no século XIX, e dá nome ao local hoje. O vídeo pode ser conferido no canal da Prefeitura de Salvador no YouTube, no endereço https://bityli.com/vEjcT.
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