Ministro admite dificuldade para administrar a segunda dose da CoronaVac; veja quais os riscos
Em uma sessão no Senado Federal realizada na manhã desta segunda-feira (26/04), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu encontrar dificuldades para a aplicação da segunda dose da CoronaVac, uma das vacinas utilizadas no Brasil durante a campanha de imunização contra a covid-19.
“Tem nos causado certa preocupação a CoronaVac, a segunda dose. Tem sido um pedido de governadores e de prefeitos, porque, se os senhores se lembram, cerca de um mês atrás se liberou as segundas doses para que se aplicassem e agora, em face de retardo de insumo vindo da China para o Butantan, há uma dificuldade com essa segunda dose”, explicou o ministro.
Nos últimos dias, cidades de São Paulo, Rio Grande do Norte, Paraíba, Amapá, Alagoas e Pernambuco precisaram interromper a campanha por falta de estoque suficiente para completar a proteção das pessoas que já haviam tomado a primeira dose anteriormente.
No dia 21 de março, o Ministério da Saúde mudou as diretrizes e permitiu que os Estados aplicassem todas as doses disponíveis, sem deixar reservas para garantir a segunda dose daqueles que já haviam recebido a primeira.
O problema é que, com o aumento da demanda mundial pelos imunizantes, a chegada dos insumos da China sofreu uma série de atrasos. Sem esse material, o Instituto Butantan não consegue finalizar a produção da CoronaVac.
E isso, por sua vez, gera uma reação em cadeia que afeta a disponibilidade de doses nos postos de saúde e emperra o andamento da campanha no país.
Mas qual o risco de não tomar a segunda dose da vacina contra a covid-19 dentro dos prazos estabelecidos?
Resguardo duvidoso
A maioria das vacinas contra a covid-19 testadas e já aprovadas necessitam de duas doses para conferir uma taxa de proteção aceitável.
Isso vale para os produtos desenvolvidos por Pfizer, Moderna, Instituto Gamaleya e os dois que são usados atualmente na campanha brasileira: a CoronaVac e a AZD1222, como explicado nos parágrafos anteriores.
Por ora, a única exceção da lista é o imunizante de Johnson e Johnson, que já fornece uma boa resposta com a aplicação de apenas uma dose.
Esses esquemas vacinais foram avaliados e definidos nos estudos clínicos das vacinas, que envolveram dezenas de milhares de voluntários e serviram para determinar a segurança e a eficácia das candidatas.
Portanto, se alguém tomar apenas a primeira dose de CoronaVac ou AZD1222 e se esquecer da segunda, não estará devidamente protegido.
“Os dados que temos mostram que a pessoa fica resguardada com duas doses. Se ela toma só uma, não completou o esquema e não está vacinada adequadamente”, explica a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Por mais que a primeira dose já dê um pouco de proteção, essa taxa não está dentro dos parâmetros estabelecidos pelos especialistas e pelas instituições que definem as regras do setor, como a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Outro ponto perigoso: ao receber a primeira dose (e não retornar para completar o esquema vacinal), o indivíduo corre o risco de ficar com uma falsa sensação de segurança.
Ele pode até achar, de forma absolutamente equivocada, que já está imune ao coronavírus e seguir a vida normalmente, sem os cuidados básicos contra a covid-19.
As recomendações, porém, continuam as mesmas para quem recebeu duas, uma ou nenhuma dose de vacina: todos precisam manter distanciamento físico, usar máscaras, lavar as mãos e cuidar da circulação de ar nos ambientes.
Começar de novo?
Ainda não se sabe ao certo como fica a situação de quem não completou as duas doses: esses indivíduos precisam recomeçar o esquema vacinal do zero ou podem tomar a segunda a qualquer momento?
Isso vai depender do tempo de atraso, especulam os especialistas.
“Se o prazo para receber a segunda dose passou demais, pode ser necessário recomeçar o regime vacinal, pois todos os dados de eficácia que temos são baseados num protocolo. Se fugirmos disso, não temos como garantir a imunização”, diz a imunologista Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Num cenário de escassez de vacinas, isso pode comprometer ainda mais nossos estoques e deixar na mão um monte de gente que ainda precisa se imunizar.
“As pessoas não devem atrasar, mas, se porventura tiverem algum imprevisto, é importante receber a segunda dose assim que possível para obter uma boa resposta imune”, reforça Ballalai.
Bonorino, que também integra a Sociedade Brasileira de Imunologia, acredita que o governo deveria investir em campanhas de comunicação para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de seguir direitinho os protocolos de imunização do país.
“Precisamos dessas informações sendo veiculadas na televisão, nas redes sociais e em todos os meios, para que a população não se esqueça de tomar a segunda dose da vacina nas datas indicadas”, destaca.
E é importante lembrar que a primeira e a segunda dose devem ser do mesmo fabricante, sem nunca misturar os produtos: tem que começar e terminar com a CoronaVac ou com a AZD1222.
De acordo com as últimas informações do Ministério da Saúde, até o momento o Brasil vacinou um total de 37 milhões de pessoas contra a covid-19.
O número corresponde a pouco mais de 17% da população do país.
(BBC)
Foto: Tânia Rêgo