Médicos e especialistas em saúde criticam uso político de vacinas
Especialistas em saúde condenaram nesta quarta-feira (21), durante reunião virtual da comissão externa que acompanha o combate à Covid-19, o uso político das vacinas. Segundo eles, questionar a eficácia ou a obrigatoriedade da vacinação em massa põe em xeque a importância de programas de imunização e gera desconfiança na sociedade.
“Não podemos diminuir a confiança das pessoas na eficácia e na segurança das vacinas. Todo esse debate em torno da vacina contra a Covid -19 pode afetar o PNI [Programa Nacional de Imunizações], que conta com vacinas seguras, comprovadamente eficazes e gratuitas”, declarou o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha.
Ele avalia que é preciso agir para que a desinformação não comprometa ainda mais a cobertura vacinal do País, que está em queda desde 2016 e não atinge nenhuma meta do calendário infantil desde 2018.
A vacinação contra a poliomielite – paralisia infantil – é um exemplo disso. Em 2015, foram vacinadas 98,29% das crianças com até 1 ano de idade. Em 2019, apenas 83,74% das crianças receberam a vacina e, até outubro deste ano, apenas 66% foram imunizadas.
Segundo a coordenadora-geral do PNI no Ministério da Saúde, Francieli Fantinato, a queda se deve ao próprio sucesso de campanhas de anos anteriores, as quais, segundo ela, criaram a falsa sensação de que não havia mais necessidade de se vacinar. Ela citou ainda questões técnicas, como horário de funcionamento das unidades de saúde e inconsistência de dados, mas reconheceu que a desinformação é um componente decisivo.
“Estamos montando um plano de comunicação para combater notícias falsas e o desconhecimento da população. Precisamos informar de forma efetiva, uma vez que a vacina é a melhor intervenção em relação às doenças imunopreveníveis”, disse.
Para a infectologista Cristiana Toscano o uso de estratégias de comunicação para enfrentar notícias falsas é urgente. “Temos a possibilidade de utilizar o debate sobre a vacina contra a Covid-19 para resgatar a confiança e o interesse da população por vacinas”, destacou.
Isolamento social
O deputado Pedro Westphalen (PP-RS), que propôs o debate sobre os impactos da pandemia na queda na cobertura vacinal do País, disse que a necessidade de isolamento social foi outro fator que contribuiu para que o País não alcançasse nenhuma meta de vacinação neste ano.
“A BCG [tuberculose], que vinha alcançando os índices de satisfação, baixou para 63%; a hepatite B baixou para 54%; o rotavírus, para 68%; a meningocócica, para 68%, quando deveriam estar acima de 90%, pelo menos”, disse.
Vacina chinesa
Diversos deputados aproveitaram o debate para criticar a declaração do presidente Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira (21), em que ele afirma que a vacina Coronavac – em desenvolvimento pela empresa chinesa Sinovac em parceira com o Instituto Butantan – “não será comprada”.
A declaração ocorre um dia após o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que está com Covid-19, anunciar um protocolo de intenções para compra de 46 milhões de doses da vacina.
“É um questão de conversar com o presidente. Não importa de onde seja a vacina. Se ela for certificada pela Anvisa, ela deve estar disponível para a população. Não podemos permitir a politização desse tema”, disse Westphalen.
Relator da Medida Provisória 1003/20, que autoriza a adesão do Brasil à aliança global de governos e fabricantes para garantir o desenvolvimento e o acesso de todos a uma vacina contra a Covid-19, o deputado Geninho Zuliani (DEM-SP) disse estar “decepcionado” com a atitude do presidente da República. “Não dá para, de forma ideológica, escolher qual vacina vamos tomar. Espero que ele possa voltar atrás na decisão.”
Para o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), a afirmação demonstra “xenofobia ideológica e ignorância”. “Não se pode colocar ideologia [nessa discussão]. O Ministério da Saúde já disse que vai apoiar qualquer vacina eficaz. Isso é xenofobia ideológica e ignorância. Quem conhece o mercado de vacinas, sabe que uma das fábricas da Astra-Zeneca fica em território chinês.”
O laboratório AstraZeneca, juntamente com a Universidade de Oxford, é a principal aposta do governo federal para uma futura vacina contra o novo coronavírus.
Fonte: Agência Câmara de Notícias