Testes sorológicos podem errar quase metade dos resultados, alerta estudo
As autoridades de saúde em todo mundo já explicaram a importância dos testes em massa para controlar a epidemia, mas o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos faz um alerta sobre um tipo de exame que pode dar um resultado errado em quase metade dos casos.
Pode ser num posto de combustíveis, numa tenda, do lado de fora da farmácia ou no estacionamento de um shopping. Não faltam opções para quem quer fazer um teste para Covid-19.
“Eu vim saber se eu já tive contato com o vírus, se estou imune, eu tenho mais medo de transmitir do que de pegar a doença”, conta Clarissa Oliveira, advogada.
O teste que a Clarissa comprou por R$ 251 é do tipo sorológico. A partir de uma amostra de sangue, o exame indica se a pessoa produziu ou não dois tipos de anticorpos, IGM ou IGG, que são defesas produzidas pelo organismo quando está ou já foi infectado pelo vírus. A análise pode ser feita em laboratório ou com kits como os parecidos com testes de glicemia. Neste caso, o resultado sai em alguns minutos, daí o apelido de teste rápido.
“Como eu tenho contato com bastante pessoas, eu não quero transmitir isso para ninguém, então toda semana eu estou fazendo”, explica Miguel Ferreira, engenheiro.
Mas um estudo feito pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos revelou que quase metade dos testes sorológicos analisados no país podem dar um resultado falso-positivo, ou seja, indicar que a pessoa tem anticorpos da doença quando, na verdade, não tem.
O órgão diz que os testes sorológicos têm um papel importante para entender a propagação do vírus numa população e identificar grupos com maior risco de infecção, mas alerta que o resultado desses testes de imunidade não devem ser usados para determinar, por exemplo, se alguém pode voltar ao trabalho e nem para agrupar pessoas em escolas, alojamentos ou presídios.
“O que está todo mundo querendo e falando é o que se fala de passaporte imunitário. Eu faço aquilo, dá positivo, eu praticamente coloco um crachá na minha frente que eu estou livre para poder andar por todos os lugares sem nenhum tipo de precaução. Isso não é verdade”, explicou Paulo Lotufo, professor da faculdade de medicina da USP.
Ricardo Parolin Schnekenberg, médico brasileiro pesquisador da universidade de Oxford, no Reino Unido, explica que a confiabilidade do resultado do teste sorológico depende do percentual da população que teve a doença.
“Quando esse teste é realizado em locais onde ainda há muitos poucos casos, a chance de ter um falso positivo é muito grande. Em locais onde já teve muitos casos da doença, o teste funciona melhor. Mas ainda no Brasil, mesmo nos locais mais afetados, ainda o teste daria resultados incorretos em grande parte dos casos. Fazer esse teste não ajuda nenhuma pessoa a decidir o que deveria fazer daqui em diante”, avalia.
A Organização Mundial da Saúde não recomenda o uso de testes sorológicos para o diagnóstico da doença e aconselha os países a aumentarem a testagem usando os exames do tipo RT-PCR ou teste genético, que detecta a presença do próprio vírus no organismo. É o teste mais usado por países que conseguiram controlar a doença, como a Coreia do Sul. Por lá, o governo faz entre 15 e 20 mil testes PCR por dia na população, com o objetivo de rastrear e isolar quem foi infectado.
Seja pelo método sorológico ou genético, o fato é que o Brasil ainda testa muito pouco. A taxa é de 2,28 testes por mil habitantes, a pior entre os países da América do Sul. Estamos na frente apenas de países como Etiópia, Bangladesh e México.
Tomar os devidos cuidados, como usar máscaras e lavar bem as mãos é o recomendado para todo mundo: quem fez e quem não fez algum teste.
A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica declarou que mesmo um resultado de anticorpos positivo não significa que a pessoa esteja imune e que não transmita mais a doença, e que todas as medidas de prevenção da doença precisam ser mantidas. A associação também afirmou que já alertou as autoridades sobre os testes feitos em locais inadequados, como o posto de gasolina que mostramos na reportagem. O responsável pelos exames feitos no posto disse ter autorização para funcionar.
(G1)