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Tire dúvidas sobre testes rápidos em farmácias e o que se sabe sobre eficácia

Farmácias e drogarias poderão realizar testes rápidos para o novo coronavírus no Brasil. A decisão é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e foi anunciada nesta terça-feira (28). Com isso, os exames deixam de ser feitos de forma exclusiva por hospitais e clínicas.

Abaixo, veja perguntas e respostas sobre o assunto:

  • O que são os testes rápidos?
  • Qual a diferença entre testes rápidos e moleculares (rRT-PCR)?
  • O teste rápido substitui outros tipos de exame?
  • Existe um período ideal para fazer o teste rápido de farmácia?
  • Considerando o uso correto, para quais perfis de casos eles devem ser usados?
  • Qual a estimativa de preço?
  • Qualquer farmácia vai poder fazer o teste rápido?
  • O que significam as siglas nos dispositivos de teste rápido?
  • Qual o nível de confiança ou eficácia dos testes rápidos?
  • Como os testes rápidos estão sendo usados pelo mundo?

O que são os testes rápidos?

São exames que detectam se o paciente adquiriu anticorpos para o vírus. Eles são feitos com uma picada no dedo da pessoa que vai ser testada ou com uma coleta tradicional de sangue em laboratório. A amostra vai para um pequeno dispositivo, semelhante a alguns dos tipos de testes de gravidez ou de glicemia.

Em um intervalo que varia de 10 a 30 minutos, o aparelho mostra se a pessoa tem anticorpos para o vírus. Esses anticorpos são produzidos pelo próprio corpo para se defender da doença: se a pessoa tem, significa que ela já foi infectada.

Qual a diferença entre testes moleculares (rRT-PCR) e testes rápidos?

As principais diferenças estão no material coletado, no tipo de análise e no tempo que o resultado leva para sair. No teste molecular, mais conhecido como rRT-PCR, a coleta é com um cotonete, colocado na boca e no nariz da pessoa que vai ser testada. A amostra é processada em laboratórios.

Tecnicamente o resultado pode ser obtido em 4 horas, mas durante a pandemia pode demorar até 7 dias por causa de gargalos nos laboratórios. Esse tipo de exame é o mais indicado para diagnosticar a Covid-19, porque consegue detectar o vírus logo no começo da doença. A chance de um falso negativo também é menor.

No teste rápido, a coleta é feita de forma semelhante à medição de glicose, com uma picada no dedo e coleta de uma amostra de sangue. Ele leva de 10 a 30 minutos para mostrar o resultado, e é indicado apenas em pessoas que apresentam sintomas há pelo menos 7 dias. Esse tipo de exame mostra se a pessoa testada tem anticorpos para o vírus.

“Quando eu falo do teste rápido, é outra avaliação. Estou avaliando a dosagem de anticorpos. Não vejo (detecto) mais o vírus, mas o anticorpo, que é a primeira arma do corpo contra o vírus”, afirma o médico infectologista Jean Gorinchteyn.

O teste rápido substitui outros tipos de exame?

Os testes rápidos não têm finalidade confirmatória, e servem como um auxílio no diagnóstico da Covid-19. Ou seja, mesmo que o resultado do teste rápido seja positivo, o paciente não será automaticamente diagnosticado como caso confirmado. O mesmo vale para um possível resultado negativo.

Isso acontece porque, no estágio inicial da infecção, falsos negativos são esperados, porque o nível de anticorpos pode ser muito baixo. De acordo com o infectologista e epidemiologista Antonio Bandeira, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), “quanto mais tempo passar desde o início dos sintomas, maior será a chance de ficar positivo o teste rápido”.

“Esses testes rápidos a gente não tem segurança neles. Há uma variação entre diversos fabricantes. A aprovação deles foi feita de forma emergencial, com uma quantidade baixa de número de amostras. Eles indicam a produção de anticorpos, ou seja, no primeiro dia até o 8º dia, esses testes não são apropriados para mostrar nada. Eles devem ficar negativos no início, porque a pessoa não tem anticorpos suficientes contra a doença”, explicou o infectologista.

Segundo Bandeira, esse tipo de teste não substitui o teste PCR, que consegue detectar o agente da doença e é mais seguro.

Existe um período ideal para fazer o teste rápido de farmácia?

A Anvisa recomenda que o teste rápido seja feito pelo menos 7 dias após o início dos sintomas. Antonio Bandeira avalia que a partir do 8º é mais seguro e, quanto mais tarde, maior a chance de dar um resultado confiável positivo.

O Ministério da Saúde recomenda como ideal o período entre o 10º e o 14º dia (veja gráfico abaixo).

Testes moleculares e testes rápidos têm nível de acerto determinado pelo uso correto dentro de cada período de apresentação dos sintomas da Covid-19 — Foto: Juliane Souza/Arte G1
Testes moleculares e testes rápidos têm nível de acerto determinado pelo uso correto dentro de cada período de apresentação dos sintomas da Covid-19 — Foto: Juliane Souza/Arte G1

Testes moleculares e testes rápidos têm nível de acerto determinado pelo uso correto dentro de cada período de apresentação dos sintomas da Covid-19 — Foto: Juliane Souza/Arte G1

Os testes rápidos são indicados para descobrir se a pessoa já tem os anticorpos para o vírus. Como o corpo demora para produzir os anticorpos, o exame só consegue achá-los a partir da primeira semana com sintomas da doença. Antes disso, existe a grande chance de que alguém, mesmo que tenha a Covid-19, receba um resultado negativo.

Por isso, no início dos sintomas, o ideal é fazer o teste PCR (molecular), o mesmo distribuído pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e feito pelo SUS nos laboratórios de referência. Ele é o “padrão ouro”:

“Eles pegam o genoma do vírus, sequenciam, tiram um pedacinho da sequência e quando você coloca na presença do vírus, ele sinaliza”, explica a infectologista Tânia Vergara, da Sociedade de Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro.

Por isso, o PCR consegue detectar o início da infecção e é mais confiável. Ele busca o próprio vírus, enquanto o teste rápido encontra a resposta imunológica do corpo ao vírus.

“Na verdade, o PCR ele vai atrás do agente, do vírus ou da bactéria. Os testes rápidos eles são testes que você busca a presença de anticorpos. Não é a melhor forma possível, mas é a mais rápida”, disse Bandeira.

Considerando o uso correto, para quais tipos de casos eles devem ser usados?

De acordo com o médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, os testes rápidos são recomendados para pessoas que estejam apresentando sintomas da Covid-19 há pelo menos 7 dias.

Qual a estimativa de preço?

Segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), ainda não existe uma previsão de quanto os testes vão custar. “Isso vai depender do custo de aquisição do produto, que é realizado em dólar”, disse Sergio Mena Barreto, presidente da Abrafarma.

Em redes de farmácias, os testes já podem ser encontrados por cerca de R$ 200.

Qualquer farmácia vai poder fazer o teste rápido?

Não. Apenas estabelecimentos com profissional qualificado durante todo o horário de funcionamento podem aplicar os testes. Também é preciso lembrar que a decisão da Anvisa permite que farmácias façam os testes, mas a adesão é voluntária.

O que significam as siglas nos dispositivos de teste rápido?

Teste rápido para Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus — Foto: Divulgação/Secom-PB

Teste rápido para Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus — Foto: Divulgação/Secom-PB

Os resultados dos testes rápidos são exibidos por um conjunto de letras: IgM e IgG, anticorpos da fase aguda (a partir de 4º – 5º dias) e crônica (a partir de 13º-14º dias) da doença, respectivamente. Estas são as defesas do organismo a um agente externo, como o coronavírus.

Qual o nível de confiança ou eficácia dos testes rápidos?

A eficácia dos testes rápidos é o principal ponto de preocupação na utilização desses testes. Apesar de algumas fabricantes prometerem índices de precisão acima de 90%, alguns exames apontam que a chance de erro pode ser de 70%.

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz e publicado no jornal “O Globo” aponta que os testes rápidos podem ser ferramentas úteis, mas, que as marcas disponíveis no Brasil tem em média um risco relativamente alto de falsos negativos – quando o anticorpo não é detectado, mas a pessoa está infectada.

Em entrevista ao jornal, o pesquisador e hepatologista Hugo Perazzo, disse que os testes são capazes de detectar mais facilmente o anticorpo IgG, que aparece no final do ciclo da doença. O tipo IgN, depois do 8º dia, pode ser mais difícil e mais suscetível a um resultado que não condiz com a verdade.

Além disso, algumas entidades médicas demonstraram preocupação com relação à aprovação dos testes pela Anvisa. São contrárias ao uso: Associação Brasileira de Biomedicina (ABBM), Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML).

“Com inúmeras evidências de que os testes rápidos apresentam grande variação de qualidade e desempenho, visto que países como Espanha e Itália já devolveram aos fabricantes milhões de kits com baixa eficiência, demonstramos preocupação com a aprovação”, apontam as entidades em nota.

Como os testes rápidos estão sendo usados pelo mundo?

Os testes rápidos não são unamidade. A Espanha teve problemas com cerca de 9 mil testes rápidos de um lote de mais de 600 mil exames da empresa chinesa Bioeasy. O índice de precisão, que deveria ser de 80%, foi de apenas 30%. A embaixada da China no país alertou o governo espanhol, no entanto, que a empresa não era credenciada para produzir esse tipo de teste.

Após adquirir milhões de testes rápidos, o Reino Unido, admitiu que ainda não tem “nenhum que seja bom o suficiente”, de acordo com o secretário de saúde do país, Matt Hancock, em entrevista à rede de notícias BBC.

Um estudo da Universidade de Oxford, coordenado pelo professor John Bell, mostrou que os testes analisados “não tiveram bom desempenho”, apresentando “muitos falsos negativos e também falsos positivos”. A conclusão é de que “nenhum dos testes avaliados atenderia aos critérios para um bom teste”, disse o estudo, sem informar quantos tipos de exame foram considerados.

Já a República Tcheca, que também adquiriu testes rápidos chineses, afirmou que 80% dos exames apresentavam defeito.

Foto: Divulgação/Secom-PB

(G1)

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