Por que é tão difícil poupar para a aposentadoria
Os dados são alarmantes em quase todos os países: a maioria das pessoas não economiza o suficiente para quando se aposentar. De acordo com levantamento feito nos Estados Unidos ano passado, um em cada quatro norte-americanos tem menos de cinco mil dólares (o equivalente a 23 mil reais) guardados, o que obriga metade deles a continuar trabalhando depois dos 65 anos. Aqui, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, 67% dos brasileiros dizem ser impossível poupar porque o dinheiro acaba antes do fim do mês. Esse percentual é uma média: entre os mais pobres, passa de 70%, mas mesmo entre os com renda maior, nas classes A e B, os poupadores não chegam a 50%.
Isso mostra que, além dos apuros com o orçamento, temos dificuldades em superar alguns padrões mentais. O primeiro é ter foco no futuro – e no que desejamos alcançar, o que facilita dizer “não” a tentações do presente. Uma das frases mais recorrentes que escuto é: “depois eu dou um jeito, vou fazer uns bicos”, ou variações sobre esse tema. Sinto muito, mas é uma fantasia, porque há o risco de não termos a mesma energia ou sermos rechaçados pelo mercado. Parece óbvio, mas é preciso alimentar a conexão entre o presente e o futuro, porque chegaremos lá e ele não está tão longe quando parece.
Os economistas também citam a aversão ao risco como uma variável que nos impede de poupar. Com os solavancos que sacodem o cenário, muita gente desiste de investir porque não acredita que uma eventual perda poderá ser recuperada lá na frente. É só ver como o coronavírus está derretendo economias, assim como outras crises provocaram turbulências. Portanto, é necessário conter a ansiedade e evitar um dos piores erros, que é comprar na alta (porque erroneamente acreditamos que ela vai continuar para sempre) e vender na baixa (neste caso, a crença equivocada é de que os valores não vão parar de cair).
Poupar é a principal frente de batalha, mas não a única. Quanto antes começarmos a fazer um enxugamento das despesas, melhor. O chamado “downsizing” deveria ser antecipado: que tal promover uma “limpa” em seus custos enquanto ainda está na faixa dos 50 anos? Vá para um apartamento ou casa menor, principalmente se tiver filhos crescidos – pode ter certeza de que eles não querem voltar a morar contigo. Com menos espaço, exercite sua visão crítica em relação ao que guardou ao longo dos anos. Talvez você tenha um aparelho de jantar a mais juntando poeira na parte de cima de um armário; roupas e sapatos que não vai usar; livros que não vai reler… Doar é sempre uma opção, mas vender coisas seminovas pela internet pode render uns bons trocados para engordar a poupança. Por último, hora do pente fino: o que é essencial e o que pode ser suprimido em termos de assinaturas? Que tal viver sem cartão de crédito, por exemplo? Apenas o movimento para cancelar esses serviços já pode poderá resultar em, pelo menos, redução do preço cobrado.
(Por Mariza Tavares-G1)