Tecnologia

Febre no WhatsApp, grupos de imitação crescem também no Facebook

Nos últimos tempos, uma nova febre surgiu nas redes sociais, na contramão das sérias discussões políticas que polarizam o Brasil nos últimos anos: os bem humorados grupos de imitação.

No WhatsApp, já existem grupos que vão de imitar bordões populares — como o “Glória a Deux”, de Cabo Daciolo, que se popularizou durante o período das eleições de 2018 e o “boa noite”, de William Bonner — até imitar celebridades, como Marília Gabriela e Faustão, ou objetos inanimados como caminhões e motos.

Mas a mania também está ganhando força no Facebook, onde um dos mais populares do “nicho” é o “Grupo para imitar idosos confusos com a tecnologia”, que teve inspiração em um grupo americano, o “A group where we pretend to be boomers” (em tradução livre, “Um grupo onde fingimos ser baby boomers” — aqueles nascidos entre 1946 e 1964).

O objetivo, como o próprio nome indica, é imitar os trejeitos de idosos pouco afeitos à tecnologia, sempre por meio de postagens e comentários repletos de vícios de linguagem e manias atribuídos aos mais velhos.

Os participantes postam, por exemplo, questionamentos sobre a veracidade de memes humorísticos ou “mensagens erradas”, supostamente confundindo o grupo com uma conversa privada ou fazendo perguntas a pessoas específicas sem marcá-las. Tudo com muitos erros — intencionais — de digitação

Hoje, com mais de 500 mil participantes, o grupo “dos idosos” recebe milhares de solicitações de novos membros por dia. Para dar conta da demanda e garantir que ninguém saia do “personagem”, os donos da página contam com moderadores voluntários.

Uma delas, Aline Eiko, de 23 anos, explica que foram criadas regras para que o grupo “não perdesse o foco” e para estabelecer diretrizes do que os participantes podem ou não postar.

Se uma pessoa sai do personagem, por exemplo, ela é silenciada por sete dias e recebe uma explicação dos moderadores para entender o porquê. Há ainda a possibilidade de ser banido do grupo, caso o participante quebre uma “regra pesada”, como postar ofensas, conteúdo pornográfico, distribuição de fake news ou se for silenciado com muita frequência.

Para o moderador Pedro Barbosa, de 20 anos, é “um grupo de comédia”. E apesar de ter mudado sua rotina para poder dar conta de aprovar novos membros e analisar postagens, continua interagindo e comentando com seu “personagem”.

Além do Facebook

Se no Facebook as pessoas se empolgaram com a ideia de escrever “como idosos”, no WhatsApp a febre é mandar áudios imitando motos — e o que mais a criatividade permitir.

Tem quem faça desde motos com cilindradas diferentes até motos com problemas de escapamento, dificuldades na ignição ou roncos poderosos.

A ideia — que acabaria se desdobrando em diversos grupos com milhares de participantes — começou como uma brincadeira do estudante Lucas Pereira Pedroso, de 20 anos.

Na terça-feira, 22 de outubro deste ano, o jovem goiano teve a ideia de criar grupos no WhatsApp para imitar famosos. A ideia evoluiu e o estudante resolveu então criar um grupo para compartilhar áudios imitando o som de motos, algo que ele e seus amigos faziam pessoalmente.

Foi um sucesso. À BBC News Brasil, Lucas conta que chegou a criar 50 grupos destinados a áudios de imitação de moto. Todos com a capacidade máxima de 257 participantes. “Não esperava essa proporção que tomou”, diz.

De espectadores a produtores

Esse sucesso rápido deve-se, em parte, segundo o doutor em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) Leonardo Goldberg, a uma “completa mudança na lógica” do humor, uma vez que “os espectadores passaram a virar produtores de conteúdo”.

À BBC News Brasil, Goldberg diz não classificar o movimento como algo “positivo ou negativo”, mas acredita que pode haver um efeito catártico em um momento de polarização nas redes sociais. “É uma brincadeira em grupo e isso pode ser muito interessante para o momento político atual do Brasil”, diz.

Válvula de escape e angústia de envelhecer

Já o doutor e mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) Antônio Carlos de Barros Júnior alerta que “não há humor inocente”.

Segundo ele, “sempre há uma agressividade subjacente, que é socialmente aceita por ser uma ‘piada'” e apesar de haver uma identificação mútua entre os membros do grupo nessa agressividade que não aparece explicitamente, isso gera, segundo Freud, uma certa descarga de tensão e portanto uma satisfação que está presente não só na piada mas também nos fenômenos de bullying em geral”.(BBC)

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