Queimaduras, espinhos, intoxicação: como se proteger dos perigos do verão
Os 7,4 mil quilômetros de praias brasileiras oferecem, além de belezas e descanso durante o verão, riscos muitas vezes desconhecidos. Entre os principais estão viroses, intoxicações ou alergias alimentares, queimaduras solares agudas e acidentes causados por animais marinhos, como águas-vivas, ouriços-do-mar ou arraias.
Segundo a dermatologista Tatiana Villas Boas Gabbi, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), as principais doenças que podem ocorrer são insolação, queimadura solar e desidratação.
Mas há ainda a fitofotodermatose, uma queimadura que ocorre após a pessoa lidar com limão, ou outras frutas cítricas, e se expor ao sol. “Primeiro é preciso lavar bem com sabonete o local do contato”, recomenda Tatiana. “Se ocorrer a queimadura, no entanto, deve-se procurar um dermatologista para que ele prescreva o tratamento adequado.”
Para evitar queimaduras solares, a recomendação é não ir à praia ao ar livre entre às 10h e 16h.
“No início da manhã e no final da tarde os raios solares são menos danosos e os problemas agudos (vermelhidão e dor) são menos prováveis”, diz o dermatologista Vidal Haddad Júnior, da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
“A exposição ao sol causa alterações cumulativas e com o tempo pode gerar lesões pré-neoplásicas (que podem ser precursoras de câncer), carcinomas e envelhecimento da pele.”
Por isso, sempre se deve usar um filtro solar, adequado ao tipo de pele do banhista. A fotoproteção inclui ainda o uso de óculos, viseira, chapéu ou boné, além de ficar mais na sombra.
“Quando a pessoa já tem uma queimadura solar inicial, o mais indicado é uso de camisetas com proteção aos raios ultravioletas do sol, que já existem no mercado”, diz Tatiana. Além disso, deve-se beber bastante água, principalmente as crianças, para evitar a desidratação.
Cuidados com a alimentação
Os perigos dos alimentos nessa época estão relacionados principalmente ao fato de as temperaturas estarem altas, em geral superiores a 30ºC.
“Produtos altamente perecíveis como, por exemplo, peixes, maionese, saladas com molhos, carnes e lácteos, se não forem acondicionados em ambiente refrigerado, ao redor de 3º a 4ºC, podem sofrer contaminação e levar a distúrbios gastrintestinais ou algo mais grave”, diz a bióloga e doutora em Ciência de Alimentos Glaucia Pastore, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pastore também recomenda especial atenção com os sucos preparados à beira-mar. É preciso verificar as condições de higiene do local, qual é a água que está sendo usada, qual é o aspecto do gelo e as condições de acondicionamento das frutas.
Na hora de comer, é melhor evitar espetinhos de camarão fritos. “O ideal é levar de casa frutas como maçã, banana, abacaxi ou sanduíches preparados com cuidado pelo próprio consumidor, mais ‘secos'”, recomenda. “Também deve-se tomar bastante líquido, água de boa qualidade. Se ingerir bebida alcoólica, é importante entremear com muita água e alguma comida.”
E no caso do álcool, a especialista alerta que é preciso tomar um cuidado extra. “Tenho visto pessoas que à beira-mar tomam muita bebida alcoólica e saem nadando ‘para tirar o álcool'”, conta.
“Nada mais perigoso, pois neste caso o fígado tem dificuldade de liberar glicose para um esforço físico grande. Além disso, até o resgate fica difícil, pois os amigos pensam que é brincadeira. O resultado são inúmeros casos de afogamento.”
Espinhos e queimaduras
O verão faz com que a procura pelas praias aumente, elevando a frequência de banhistas, mergulhadores e praticantes de esportes. Com isso, a incidência de contatos com animais aquáticos potencialmente perigosos também aumenta segundo Vidal Haddad Júnior, da Unesp Botucatu, que também estuda estes animais há 20 anos.
“O resultado (do aumento de banhistas nas praias) é que todos os anos há surtos de ataques de águas-vivas na região Sul, de caravelas no Nordeste e de piranhas nas represas e lagos de todo país”, afirma.
“Além disso, as pessoas pisam em bagres e ouriços-do-mar nas praias. Um em cada mil acidentes ou atendimentos de urgência em cidades litorâneas é causado por animais marinhos.”
Os dados que Haddad coletou em Ubatuba (SP) para sua tese de doutorado mostram que os casos mais comuns estavam relacionados aos ouriços-do-mar (50% de mais de 2 mil casos), às caravelas e águas-vivas (25%) e a peixes como bagres e arraias (25%).
Entre os peixes venenosos, a maioria absoluta dos problemas é causada por bagres atirados na areia por pescadores de pequenas redes.
No caso das águas-vivas e caravelas, embora pertençam ao mesmo grupo de animais, os cnidários, as primeiras são transparentes e raramente visíveis quando no mar, enquanto que as segundas têm uma bolsa púrpura ou avermelhada que flutua acima da linha da água, sendo facilmente percebidas.
Segundo o pesquisador, é importante saber que as caravelas permanecem com capacidade de envenenar até 24 horas após saírem do oceano, o que deve ser levado em consideração pela possibilidade de crianças brincarem com aquelas encalhadas nas praias.
O contato com esses cnidários deixa linhas avermelhadas na pele muito dolorosas, causadas por seus tentáculos. A dor é instantânea e violenta. “Deve-se retirar os tentáculos ainda aderidos sem usar as mãos nuas e, depois fazer compressas de água do mar gelada”, ensina Haddad.
Mas por que água do mar? “A água doce gelada piora o quadro. Banhos com vinagre também podem ajudar a tornar o veneno inativo. Caso haja falta de ar ou aceleração dos batimentos cardíacos é recomendável procurar um hospital.”
Já os ouriços-do-mar vivem em colônias em paredões rochosos ou em pequenas lagoas que se formam nas marés nos terrenos pedregosos entre praias.
O mais comum é que frequentadores das praias pisem neles, fazendo com que os espinhos se quebrem e penetrem profundamente na pele da vítima.
“A pessoa deve ficar em repouso, evitando pisar sobre a área atingida do pé”, afirma Haddad. A extração dos espinhos não é fácil, por isso deve-se procurar atendimento hospitalar. Não há envenenamento com as espécies do Brasil, mas a dor pode ser forte.(BBC)