Por ora, Rodrigo Maia dispensa o terno da posse
Se não errar, e até aqui não errou, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, completará o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff que Michel Temer vê escapar-lhe por entre os dedos.
E por máxima culpa dele, exclusivamente dele, que recebeu no porão do Jaburu o empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS, e se deixou gravar ouvindo e dizendo coisas nefastas.
Isso custou a Temer uma denúncia por crime de corrupção apresentada pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal. Haverá pelo menos outra denúncia, e talvez uma terceira.
Se a Câmara arquivar a primeira denúncia, Temer não sobreviverá à segunda. Se sobreviver, acabará derrubado pelas delações do ex-deputado Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro que estão por vir.
Se não for derrubado, será promovido à condição de presidente decorativo sem mais poderes para governar coisa alguma. Então se arrastará no cargo como o ex-presidente José Sarney no final dos anos 80.
Na definição do marechal Cordeiro de Farias, o Exército foi dormir janguista na noite do dia 30 de março de 1964 e acordou revolucionário, deflagrando o golpe que depôs o então presidente João Goulart.
Ainda não se pode dizer que a Câmara está para acordar a qualquer momento contra Temer. Mas ali, na semana passada, ele contava com uma folgada maioria de votos para manter-se no cargo. Agora, não mais.
O governo culpa Maia por parte da perda de apoio. Atribui a ele a escolha do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) para relator da denúncia de Janot na Comissão de Constituição da Câmara. Zveiter é pouco confiável.
Acha que Maia só tem feito se distanciar de Temer à medida que crescem suas chances de sucedê-lo. E não está gostando nem um pouco do que Maia tem sussurrado em conversas com deputados de todos os partidos.
Ao mesmo tempo em que jura fidelidade a Temer, Maia se comporta como presidente de uma instituição que não é, e que não deveria ser subordinada aos interesses do presidente da República. Está certo.
Maia deve o mandato de presidente aos que o elegeram. Foi votado para substituir Cunha por deputados de todas as cores, inclusive da oposição. Um passo em falso e ele perderia seu capital político.
O que diga ou deixe de dizer é interpretado ao gosto de cada um – por isso tem preferido o silêncio. Embora quase todos saibam, e não somente os políticos, o que lhe passa pela cabeça.
Se o destino fizer de Maia o sucessor temporário ou definitivo de Temer, ele manterá a atual equipe econômica do governo, os compromissos com as reformas, mas se livrará de ministros envolvidos com a Lava Jato.
Governará sem a pretensão de tentar se reeleger presidente no próximo ano. Mas se for bem-sucedido, e se o cavalo passar encilhado, não se negará a montá-lo. O futuro a Deus pertence.(Blog do Noblat)