Tecnologia

Tudo que a Netflix sabe sobre você (e por que quer saber tanto)

 

O serviço de vídeo por assinatura é cada vez mais popular. Bateu recorde de assinantes internacionais em 2016 e já está disponível em 190 países, segundo o site da empresa. Ao todo, conta com mais de 100 milhões de clientes no mundo.

Uma chave desse sucesso é a profundidade com que conhece seu público: a Netflix estuda seus hábitos de consumo em detalhes para conhecê-lo melhor e tirar o melhor proveito de cada usuário.

A prática ecoa uma velha lição do guru do marketing Philip Kotler: “O mais importante é prever para onde vão os clientes e se postar bem na frente deles”.

É isso o que faz a Netflix cada vez que nos conectamos ao serviço.

A chave são os metadados, os dados sobre dados que definem seu perfil, baseados nas informações que deixa cada vez que assiste a um vídeo (e até antes disso).

A Netflix observa a hora em que se conectou para assistir ao último capítulo de sua série favorita (e o primeiro), do ponto exato em que começou até quando perdeu o interesse.

Analisa também quantos minutos da série você viu, quantas pausas fez e quanto cada uma delas durou.

O serviço sabe se está “enganchado” a alguma série, filme ou documentário, ou se a produção não chegou a atrair sua atenção.

O que você vê… e o que quer ver

A Netflix conhece os perfis de seus clientes e reconhece os dispositivos que usa para se conectar à internet: modelo e marca de televisão, smartphone ou tablet que usa em cada ocasião, navegador de internet e endereço IP de seu terminal.

Também sabe as palavras que escreve no buscador do serviço para acessar as séries e os filmes oferecidos quando aciona a busca (e também quando não aciona).

Sabe ainda seu histórico de buscas, os produtos que mais gosta, as notas que dá a cada produção e, claro, como paga pelos serviços.

Possui um registro do número de horas de conteúdo audiovisual que viu desde a abertura da conta, quantos programas e séries consumiu e quanto pagou.

Em 2015, a companhia tornou pública uma estatística que mostra o momento exato em que os usuários se “engancham” a alguma série. É o chamado “episódio gancho”.

Ou seja, a partir de poucos dados pessoais, como nome, e-mail e dados para faturamento, somam-se os metadados gerados pela navegação e a gigante do entretenimento é capaz de construir um perfil comercial que define os usuários em diferentes categorias de hábitos de consumo e interesses.

Poder dos algoritmos

Em notas à imprensa disponíveis no site da Netflix, a empresa detalha dados analisados para compor o perfil dos usuários. “58% dos mexicanos se adiantam aos companheiros em episódios de séries”, diz um dos comunicados.

E assim justifica a busca por saber tudo sobre você: “Na Netflix nossa meta é conectá-lo a grandes histórias. Cada um de nossos membros possui preferências únicas e trabalhamos constantemente para melhorar as sugestões personalizadas que permitem encontrar os melhores conteúdos de modo mais fácil e rápido”.

“Todos os dados são alimentados por diferentes algoritmos (expressões matemáticas que orientam a solução de problemas), e cada algoritmo é otimizado para propósitos distintos”, afirmou Xavier Amatriain em 2013 quando era diretor de engenharia da empresa.

Segundo Amatriain, os algoritmosdividem os usuários pelos gostos individuais e usam esse comportamento para estabelecer quais são suas preferências.

Graças a esses algoritmos, a Netflix resolveu dar um passo além em 2013 ao apostar em produções próprias, oferecendo os 13 primeiros episódios da série House of Cards, pela qual pagou antecipadamente, sem testes prévios em episódio piloto.

Os dados sobre o conteúdo mais visto e bem avaliado pelos usuários tinham revelado três ingredientes chave: o ator Kevin Spacey, o diretor David Fincher e dramas políticos produzidos pela BBC.

Daí a encomenda de um remake da produção inglesa, exibida pela BBC na década de 1990. E a comprovação de que os algoritmos tinham razão – e sabiam muito sobre os clientes.

Caso queira saber exatamente o que a Netflix sabe sobre você, a legislação de proteção de dados prevê o acesso a informações pessoais existentes em banco de dados.

Sancionado em 2014, o Marco Civil da Internet no Brasil diz que os usuários têm direito a “informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento, tratamento e proteção de seus dados pessoais”.

A lei também determina que tais dados podem ser usados apenas em “finalidades que justifiquem sua coleta, não sejam vedadas pela legislação e estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de internet”.(BBC)

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