Política

A esquerda, refém de Lula

Foram dias infernais para Lula. Em 6 de junho de 2005, Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciara o pagamento de propina a deputados.

No dia 16, José Dirceu, chefe da Casa Civil, pedira demissão. No dia 7 de julho, o Congresso instalara duas CPIs para apurar o caso.

E no dia 12 de agosto, Duda Mendonça, marqueteiro da campanha de Lula, revelara que fora pago no exterior com dinheiro de caixa dois.

Duas semanas depois da revelação feita por Duda que quase levou o governo a pique, Lula reuniu-se secretamente, à noite, com uma dezena de políticos em uma casa no Lago Sul de Brasília.

Estava acompanhado pelo ex-ministro José Dirceu. A maioria dos políticos era da oposição – entre eles o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) e Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado.

Parecia abatido. Todos ali sabiam que semanas antes ele tomara um porre e ameaçara renunciar ao cargo. Não sabiam, porém, o que ele contara a um amigo na véspera da publicação da denúncia de Jefferson: “A entrevista do Roberto vai virar o país de cabeça para baixo. Todo mundo vai achar que o governo não se sustentará mais de pé. Mas acredite: a montanha vai parir um rato”.

Dissera mais ao amigo: “Pensam que vão me destruir. Pois vou me reeleger e fazer meu sucessor”. E antecipara seus próximos lances: “Vou aproveitar para me livrar de Zé Dirceu e de Palocci”.

De Dirceu, se livraria rápido ao forçá-lo a pedir demissão. De Palocci livrou-se em março de 2006 quando se descobriu que ele comparecera a alegres festinhas promovidas por lobistas.

Aos políticos que o ouviram atentos naquela noite de temperatura amena em Brasília, Lula dissertou sobre o agravamento da crise política que enfrentava, e em seguida foi direto ao ponto:

“Sou um torneiro-mecânico. Jamais imaginei chegar aonde cheguei. A essa altura, não desejo mais nada. A única coisa que quero é completar meu mandato, mesmo sangrando”.

Se não o deixassem sangrar até o fim, advertiu: “Nesse caso irei para as ruas e lutarei pelo mandato que o povo me conferiu”.

Ninguém o interrompeu. Nem comentou o que ele disse. Mas nos dias seguintes, a palavra de ordem repetida pelos mais influentes líderes da oposição dentro do Congresso foi esta: “Vamos deixar que Lula sangre, e o poder nos cairá no colo”. Amadores!

O futuro de Lula já não mais depende dele, o mestre do ilusionismo que marcou todas as eleições presidenciais de 1989 para cá. Esgotou-se o estoque de truques de Lula quando a decisão sobre o seu destino migrou da órbita da política para a da Justiça.

Só quem pode salvá-lo são seus advogados. A jararaca jaz quase inerte. As delações recentes emudeceram o PT.

A esquerda que cavalgou Lula para chegar ao poder carece de nomes e de rumo para reverter seu encolhimento registrado nas últimas eleições. Nas próximas, encolherá mais.

Entre muros, reconhece o mal que Lula lhe fez, um líder sem compromisso com nada que não fosse a sua própria sobrevivência. Mas ainda se recusa a reconhecer o mal que ela, esquerda, fez também a Lula e ao país.

No momento, esperneia, ataca os que corromperam e que se deixaram corromper, poupa Lula e prega eleições diretas, já, para derrubar o governo. Finge que desconhecia o mar de lama que a beneficiou antes de engolfá-la.

De fato, segue refém de Lula, que com o seu apoio poderia vir a ser candidato outra vez driblando uma eventual condenação definitiva na Justiça. A ver.

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