O que a morte da orca mais velha do mundo pode nos ensinar sobre a menopausa
Pesquisadores divulgaram nesta terça-feira que a orca mais velha do mundo desapareceu e provavelmente está morta.
Granny (vovó), como era conhecida, tinha mais de 100 anos e foi fundamental para pesquisas que estudaram questões ligadas à influência da menopausa na evolução.
Isso porque as orcas são uma das únicas espécies de mamíferos que entram na menopausa – juntamente com outro tipo de cetáceo (a baleia-piloto-de-aleta-curta), além das mulheres. Até mesmo espécies consideradas nossos “primos”, como os chimpanzés, não passam por essa experiência.
O objetivo das pesquisas era entender por que esses animais deixam de ter bebês aos 30 ou 40 anos, mesmo podendo viver por ainda muito tempo.
Assim, acompanhar a vida de Granny e de outras orcas fêmeas mostrou aos pesquisadores o papel fundamental que elas têm no grupo familiar, justamente nesse período pós-reprodutivo.
“Ela vinha ajudando seu grupo familiar a sobreviver ao compartilhar seu conhecimento sobre quando e onde encontrar alimentos”, explica o professor de biologia da Universidade de Exeter Darren Croft, que coordena a pesquisa. Orcas mais velhas também seriam responsáveis por cuidar dos filhotes do grupo.
Com essas ações em mente, Croft e seus colegas investigam se as orcas na menopausa aumentam as possibilidades de sobrevivência do restante de suas famílias e, portanto, de seus próprios genes.
Vovós trabalhadoras
A pesquisa coleta estatísticas vitais – como taxa de nascimento, de mortalidade e probabilidade de sobrevivência – e as estuda de acordo com uma calculadora darwiniana para checar se a menopausa das orcas traz benefícios aos netos.
“Notamos que as velhas guiam o grupo para encontrar alimentos. Todos confiam em sua experiência e em seu conhecimento ecológico”, afirmou Croft.
Mas apesar das vantagens de se ter avós trabalhadoras, esses benefícios talvez não superem o “custo” – ou a interrupção – da reprodução, segundo os pesquisadores.
Croft acredita que pode haver outro fator impulsionando a evolução da menopausa. O professor pesquisa se ela ajuda as orcas a sobreviver, reduzindo as possibilidades de que as mães e as filhas tenham bebês ao mesmo tempo.
A pesquisa vai continuar, mas agora sem a orca mais estudada do planeta, Granny.
Ela vivia na zona costeira do Pacífico norte, próximo a Vancouver (Canadá) e Seattle (Estados Unidos), mais especificamente no chamado mar de Salish.
A orca integrava um clã de 78 cetáceos que se divide em três grupos distintos e que regressavam a Salish todos os verões.(BBC)