Lixo e desinformação lideram audiência na TV baiana
Fruto de uma sociedade que canibaliza-se, programas que pingam sangue não constituem novidade na TV brasileira. Baseados na busca incessante pelo sensacionalismo e no sórdido gosto pela desgraça, são atrações que se lastreiam no perverso inconsciente popular do quanto pior melhor para galgar audiência e, acima de tudo, encher os bolsos de seus produtores e apresentadores com a grana oriunda de Merchandising de produtos e serviços de qualidade duvidosa.
Assim, milhares de pessoas sentam-se em frente a aparelhos de TV para assistir a desgraça alheia. Ver um apresentador que, misto de juiz e dono da verdade, critica situações que ele próprio desconhece a origem. Repórteres que invadem delegacias em busca de conversa fiada com acusados de crimes e, por incrível que pareça, comportam-se como autoridades detentoras de poder para avaliar esta ou aquela conduta. A sede de sangue é patente. Os cortes abruptos para cenas mais violentas são comuns. É uma forma de atrair a funesta audiência que, do outro lado da tela, vibra com a prisão de um criminoso ou a morte de outro. Desconhecem que podem ser vítimas de tal ganância a qualquer momento.
O jornalismo, aquele que deveria informar e formar a partir da exposição de fatos investigados e tratados de forma isenta, há muito deixou de existir. Cedeu lugar ao sensacionalismo. A banalidade da exposição da dor do outro que, desprovida da solidariedade, busca apenas saciar o que há de mais torpe na natureza humana é o mote que move os números e as cifras das emissoras que apostam no formato. Foi com esse cardápio podre e pobre, que no início da tarde da última quarta-feira (11), por volta das 12h às 14h45, o programa Balanço Geral, comando o jornalista Zé Eduardo, mas conhecido como Bocão, consegui superar o telejornal da sua concorrente, TV Bahia. 22 pontos de audiência contra 14 do informativo. Não que o BATV seja um exemplo de jornalismo. Mas, é clara a finalidade de cada um dos programas. O triste disso tudo não reside na concorrência entre emissoras, mas na constatação que o lixo toma o lugar da informação. Sem qualidade, sem conteúdo e sem ética, programas como Balanço Geral em nada contribuem para a formação de opiniões que ajudem a criar uma sociedade consciente. Ao contrário, a relevar o bestial, ao festejar a sordidez, apenas contribui para alicerçar a cultura da violência moral e da velha ideia que se deve atirar a primeira pedra.
Ao ligar sua TV, pense duas vezes antes de se fixar em uma atração grotesca. Afinal, amanhã a vítima do circo de horror pode ser você.