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Nos braços do imponderável

Imponderável (Foto: Arquivo Google)
Em um café da manhã, na quinta-feira, com jornalistas, o presidente Temer garantiu: “Não tenho pensado em renúncia”. Foi a frase mais reveladora do encontro, exatamente por nada revelar. Quem renuncia não avisa; simplesmente o faz. Se avisar, já o fez.
Motivos para fazê-lo não lhe faltam, como a nenhum chefe de governo em dificuldades. E quase todos padecem delas, já que governar nada mais é que administrá-las – e frequentemente criá-las. Mas é claro que há gradações, felizmente.
Nem todos lidam com problemas da mesma espécie e complexidade. Comparado aos problemas que enfrenta, por exemplo, o ditador sírio Bassar-al-Assad, Temer até que não vai mal. Mas, concretamente, o que tem diante de si já o leva a mencionar a palavra renúncia, ainda que para negá-la.
De fato. Além de duas citações desabonadoras, em delações da Odebrecht, sendo uma do próprio titular do sobrenome, enfrenta um processo no TSE, por crime eleitoral, que pode mandá-lo para casa antes do fim do mandato. Mas há mais, muito mais.
O ano parlamentar termina com uma derrota do presidente junto a seus principais aliados: os deputados. E não uma derrota qualquer: 296 a 2, em projeto que estabelece regras para a renegociação das dívidas dos estados, sem as contrapartidas que o governo impusera, em nome da recuperação da economia.
É grave? É: complica ainda mais o ajuste das contas, grande desafio deixado pela presidente que o precedeu – que, como Átila, o huno, por onde passou nada mais floresceu. Os fatores que levaram ao endividamento dos estados, uma vez banidos da renegociação, preparam o terreno para novo ciclo de gastança. Nada menos.
Teoricamente, o presidente pode vetar o projeto. Mas já disse que não o fará pelo duplo risco que correria: primeiro, ver seu veto derrubado; segundo, incompatibilizar-se com o único apoio que lhe resta. Um apoio que se mostrou, pela primeira vez, limitado.
A Câmara optou por apoiar os governadores, que lhe serão essenciais no ano pré-eleitoral de 2017. O apoio, qualquer apoio, ali, tem a partir de agora este referencial: a reeleição. Temer, deputado de carreira, sabe disso e terá de lidar com isso.
Considerando-se que fora do Congresso não há aliados – e que as delações da Lava Jato podem reservar mais e piores surpresas -, Temer está mais frágil que nunca. Sua chance de reverter a impopularidade é consertar a economia – e sabe que não o fará.
Tem-se por certo que não conseguirá aprovar a reforma da Previdência, dado a sua rejeição pela sociedade, que não quer pagar a conta do que não fez. O Congresso deixou claro que não tem vocação para o suicídio. Não votará nada que o comprometa ainda mais. E isso se estende às demais reformas, trabalhista e tributária.
São questões que todos reconhecem como vitais e inadiáveis, mas que vêm sendo adiadas governo a governo. Se nem os governos que emergem com o prestígio das urnas ousam mergulhar nesses temas, que dirá um que assume em condições precárias, sem a euforia das urnas, desprovido de carisma e confiança, e ainda por cima marcado por denúncias que emergem de uma operação policial?
O que ainda sustenta Temer é a demanda por estabilidade dos setores financeiro e empresarial. Ali está a pinguela, de que falou FHC. Mas ela, exatamente por ser pinguela, não aguenta a conjunção de crise, impopularidade e Lava Jato.
Com a política no banco dos réus – e haja réus -, 2017 se afigura um ano imprevisível, em que tudo pode acontecer, menos nada. De antecipação das eleições gerais a intervenção militar, cogita-se de tudo e mais alguma coisa – até da imensa façanha que será a chegada do governo Temer ao dia final de seu mandato, em 1º de janeiro de 2019. Tudo é possível, inclusive isso.(Blog do Noblat)

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