Em busca de credibilidade
O presidente Michel Temer vai reformar seu Ministério em fevereiro. Entendeu, após o desmanche de seu núcleo duro, alvo da Lava Jato – em delações que, inclusive, o incluem -, que, para sobreviver, é preciso alguma respeitabilidade técnica e moral.
Os ministros que escolheu, salvo poucas exceções, carecem de ambas. A questão, porém, é que despertou tardiamente para o problema. Ainda que encontre tais sumidades e as convença a integrar um governo em decomposição, moral e política, é improvável que revertam a crise de confiança que já o coloca em queda livre.
Duas pesquisas recentes, Ibope e Datafolha, constatam que sua popularidade e índice de confiança o aproximam da Dilma Roussef dos dias finais. Isso explica, nesta mesma semana, o surgimento de duas propostas de eleições diretas como saída para a crise: uma vinda da esquerda, via deputado Henrique Fontana (PT), e outra da direita, via senador Ronaldo Caiado (Dem).
Em política, como em tudo o mais, há o fator timing. Se, na chegada ao poder, como foi aconselhado, Temer tivesse optado por um ministério de notáveis, acima dos partidos, capitalizaria a catarse moral operada pelo impeachment, pressionando o Congresso de fora para dentro e assumindo a voz da sociedade. Fez o contrário.
Optou por um ministério de resultados, à imagem e semelhança do atual Congresso. Lá colocou figuras notórias, em nome de uma interlocução íntima e funcional com os parlamentares, não com o país. Não entendeu bem a tal voz das ruas.
Escalou o ministério como se fosse um diretório do PMDB. Em seu primeiro pronunciamento, ainda como presidente interino, cercou-se da fina flor do Parlamento, dizendo que governaria com o Congresso. E assim o fez. Entre outros, trouxe velhos companheiros peemedebistas, íntimos das jornadas partidárias, como Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima, Romero Jucá e Elizeu Padilha.
Destes, só Padilha ainda sobrevive no governo; os demais saíram no rastro de denúncias de escândalos.
Reconheça-se que, dentro do raciocínio utilitário que utilizou, Temer tinha lá alguma razão. Poucos, afinal, conhecem tão bem as entranhas do Congresso quanto aquelas figuras. Sabem quais são as demandas e como torná-las moeda de troca no jogo político.
O problema é que não considerou a Lava Jato. Como poderia supor que, tendo sido parceiro de tantos anos do PT, o PMDB estaria livre das delações, que ainda estão em seu estágio inicial?
O resultado não podia ser outro. Em seis meses de governo, Temer já registrava a marca de seis ministros depostos, à média de um por mês, a maioria de seu núcleo duro – isto é, seus mais íntimos, o que lhe aumentou o desgaste pessoal.
O que o mantém com algum apoio, embora cada vez menor, é o anseio do setor empresarial por alguma estabilidade política que permita ao país cruzar a pinguela institucional em que está (conforme expressão de FHC) até chegar às eleições de 2018.
Já pareceu mais fácil. Hoje, já se duvida disso, o que explica o ressurgimento da tese de antecipação do calendário eleitoral.
A ideia de reforma ministerial praticamente se impõe, ainda que de duvidosos efeitos práticos. O presidente a desmente porque, como é óbvio, só pode confirmá-la ao fazê-la. Em sua base parlamentar comenta-se que, nessa mexida, dará maior espaço ao PSDB, partido que, nas delações da Odebrecht, começa a perder sua aura de respeitabilidade, com todos os seus presidenciáveis mencionados em situações desabonadoras.
Temer chegou tarde à ideia de cercar-se de gente de bem. A Lava Jato está extinguindo a espécie residual no meio político, o que faz prever que 2017 será um ano muito comprido para a crise – e talvez curto para o mandato do atual governo. (Blog do Noblat)