A quem interessa a demolição do Centro de Convenções?
O Centro de Convenções de Salvador é uma obra de arte, um dos símbolos da moderna arquitetura brasileira, e qualquer cidade faria de tudo para preservá-lo, divulgando-o mundo afora. Construído em 1979, no governo Roberto Santos, o Centro de Convenções tem um irmão gêmeo em Paris, o Centro Georges Pompidou, um dos mais importantes edifícios do mundo, inaugurado dois anos antes. A arquitetura do Centro Georges Pompidou é a expressão arquitetônica da revolução tecnológica e surpreendeu o mundo todo com sua arquitetura high tech, que anunciava uma nova era, a era das conquistas espaciais, das estruturas soltas e livres, sem fachadas formais ou limites no espaço. O Centro Georges Pompidou gerou enorme controvérsia, com muita gente afirmando que ele mais parecia uma refinaria, mas, ainda hoje, é um dos símbolos de Paris.
O Centro de Convenções de Salvador é irmão gêmeo do Centro Georges Pompidou e seu projeto elaborado pelo escritório MMM Roberto, do Rio de Janeiro, que foi um dos escritórios mais importantes da Arquitetura Moderna Brasileira, teve a mesma motivação do seu irmão parisiense e é um símbolo dessa arquitetura high tech, típica do movimento londrino Archigram. Manter, preservar e divulgar um monumento dessa importância é responsabilidade do poder público… a não ser na Bahia, onde se pretende jogá-lo ao chão. Na verdade, a proposta de demolir o Centro de Convenções é um atentado ao patrimônio histórico e à memória de Salvador. Além disso, o governo sabe que será mais barato e mais racional reformar o antigo Centro de Convenções do que construir outro.
O governo sabe disso porque contratou o consórcio Engecorps/ KPMG para realizar o estudo de modelagem da restruturação do prédio do Centro de Convenções, e recebeu o documento, sem divulgar, em dezembro de 2014. O estudo propõe a reforma, modernização, construção de mezanino para salas, estacionamento e um novo Pavilhão de Feiras ao custo de R$ 257 milhões. Mas o projeto, ao qual este jornalista teve acesso, tem aberrações como a mudança da fachada do prédio, um crime arquitetônico, e a construção de um Pavilhão de Feiras megalomaníaco ao custo de R$ 80 milhões.
Assim, se fosse readequado, a reforma do Centro de Convenções sairia por cerca de R$ 150 milhões, um valor três vezes menor do que o necessário para construir um novo centro e, talvez, mais barato que o custo de sua demolição. Sendo assim, por que não reformar o Centro de Convenções, um prédio que por si só já é uma atração turística e que está numa localização perfeita, a meio caminho entre o Centro Histórico e o aeroporto? No entanto, sem levar em conta a racionalidade econômica e o caráter de patrimônio histórico adquirido pelo prédio do Centro de Convenções, o governo do Estado insiste na construção de um novo equipamento localizado no Parque de Exposições ou no Comércio, mas a viabilidade econômica dessas alternativas parece pequena.
O Parque de Exposições é uma localização completamente inadequada, em função da distância do mar e do Centro Histórico de Salvador. O Comércio está próximo ao mar, e a construção de um centro de convenções menor no local seria bem-vinda, mas essa solução é mais cara e demanda tempo, afinal, a Marinha não está disposta a ceder o terreno inicialmente proposto, onde hoje funciona o Hospital Naval, e, se o fizer, exigirá que o governo construa um outro hospital em Salvador para seu uso, o que jogaria para o espaço o custo do projeto.
Já a utilização de outros locais no Comércio, como os inúteis barracões do Porto de Salvador ou o antigo prédio da Petrobras, demandaria um enorme tempo para negociações e ajustes. Em suma, o caráter de patrimônio da cidade e a racionalidade econômica mostram que a reforma do Centro de Convenções é o melhor caminho para Salvador. Sendo assim, fica no ar uma pergunta: a quem interessa a demolição do Centro de Convenções?(Correio)