Para impulsionar o setor aéreo é preciso respeitar os passageiros
A proposta de um pacote de medidas para o setor aéreo preocupa. A ideia de atrair empresas de baixo custo já foi tentada outras vezes e não trouxe benefícios. Hoje, o país não tem nenhuma companhia aérea que se encaixe nesse padrão. O respeito aos passageiros é fundamental para alavancar o setor. Mas esse pacote é mais um truque para dar benefícios às empresas e tirar direitos dos consumidores.
Entre as propostas, estão a cobrança por bagagens e a venda de passagens sem o lugar marcado. O espaço entre as poltronas pode ser ainda menor. A disposição das cadeiras em algumas aeronaves já impressiona, em especial na Tam. Tenho estatura mediana e me sinto prisioneira naquele espaço. Há pouco tempo, fiquei com um hematoma no joelho após o passageiro da frente inclinar o assento, o que é um direito dele, por enquanto. Uma das ideias é permitir assentos que não reclinam.
Os custos de cancelamento são muito elevados, em alguns casos chegam a 50% da tarifa mais multa. O caminho para as queixas é demorado. A Anac, a agência da aviação civil, se coloca como a reguladora do mercado, na maioria das vezes se confundindo com a defesa das companhias.
Há um raro ponto positivo entre as propostas, que é a possibilidade de transferir passagens para outros passageiros. No restante, o projeto se baseia em desconfortos para o passageiro com a intenção de beneficiar as empresas. Elas dizem passar por dificuldades financeiras, mas é preciso lembrar elas tiveram duas reduções importantes nos seus custos, recentemente. O preço do petróleo caiu no último ano e o dólar também recuou nos últimos meses.
As operadoras têm que se tornar eficientes. Tenho viajado de avião e posso dizer que os voos estão cheios.
Duvido imensamente que as medidas promoverão a entrada de companhias de serviço mínimo, até porque elas podem mudar de perfil a qualquer momento. A Gol, quando surgiu, se posicionou como uma empresa de baixo custo, mas é tão cara quanto as outras. Se a intenção é alavancar o mercado de transporte aéreo no Brasil, é necessário respeitar também os direitos e interesses dos passageiros.(Blog da Miriam Leitão)