Corticoide: saiba se o remédio engorda e quem deve usar
O que é?
Corticoides, como conhecemos, são medicamentos de ação anti-inflamatória e imunossupressora – ou seja, usada para suprimir os mecanismos de defesa do corpo, um procedimento necessário para a realização de transplantes e enxertos, por exemplo. Este medicamento é confeccionado a partir de um hormônio produzido pelo nosso corpo chamado de cortisol, que é produzido nas glândulas suprarrenais. O corticoide, portanto, é um derivado sintético deste hormônio, com o mesmo núcleo, mas a estrutura dele é modificada para potencializar a sua ação e função no organismo.
Os corticoides, também conhecidos como corticosteroides, glicocorticoides e anti-inflamatórios esteroidais, são muito potentes e têm as mais diversas indicações para uso. Contudo, por serem uma espécie de hormônio sintético, eles não atuam apenas onde está o problema, e podem acabar alterado o funcionamento de todo o organismo. Seu uso requer cuidados e a indicação médica é fundamental, assim como seguir as orientações de posologia à risca e o protocolo de retirada do medicamento do organismo também.
Tipos
Os corticoides estão disponíveis nas mais diferentes formas farmacêuticas e recomendações de uso. Pode ser encontrado em medicamentos via oral (comprimidos e xaropes), de forma injetável, como colírio, para uso tópico (pomadas e cremes) e até via inalatória – comumente utilizada para o tratamento da bronquite asmática crônica. Ao longo das décadas, este medicamento que é bastante antigo, foi sendo aprimorado, novas moléculas foram criadas, e os seus efeitos colaterais mais documentados, fazendo com que as empresas incluíssem nas suas formulações outros remédios que ajudassem a combate-las ou evitar que se agravassem.
Quando o corticoide é indicado
O corticoide é indicado para grande parte das reações inflamatórias e em alguns casos de imunossupressão. De forma mais prática, ele é utilizado em casos de reações alérgicas (evitando que elas se agravem), asma, rinite, conjuntivite por alergia,dor muscular, dor de coluna, situações de dor aguda, entre outras.
Ele também pode fazer parte das medicações utilizadas como imunossupressores (necessários em casos de transplantes, por exemplo), como antiemético (diminui náuseas e vômitos); no protocolo de um tipo de câncer comum em crianças, a leucemia linfoide aguda; e em alguns casos em que há risco do bebê nascer prematuro.
É importante ressaltar que normalmente o corticoide é utilizado por curtos períodos de tempo, e quando o seu uso é mais recorrente ou longo, outros remédios são necessários para tentar conter os seus efeitos colaterais mais significativos.
Funcionamento do corticoide
Quando um pessoa está com uma inflamação, são diversas as substâncias responsáveis por este processo e que refletem no corpo inteiro. O corticoide, agindo como o hormônio cortisol potencializado, impede a produção de várias destas substâncias envolvidas na inflamação e na resposta imune da pessoa.
Quando o corticoide é contraindicado
Os corticoides não possuem uma contraindicação absoluta, mas devem ser utilizados apenas sob orientação médica. Pessoas com diabetes, hipertensão, com osteoporose ou na menopausa devem ser mais cuidadosas com estes medicamentos, uma vez que eles costumam alterar a glicemia, pressão arterial e estão relacionados à uma propensão de aumento da fragilidade óssea.
Crianças também devem ser monitoradas e os medicamentos apenas utilizados em casos de necessidade, uma vez que o seu uso por longos períodos pode causar um prejuízo no desenvolvimento muscular e esquelético. Em idosos também é preciso avaliar como está o metabolismo antes de prescrever corticoides.
Em suma, para que o corticoide seja indicado, principalmente nestes casos mais críticos, é preciso que os seus benefícios superem os possíveis riscos. Quando se tem doenças crônicas, o uso prolongado, no geral, não é indicado.
Corticoide x Pílula anticoncepcional
É importante ressaltar que os corticoides interferem com o funcionamento das pílulas anticoncepcionais hormonais, portanto, se faz uso deste método consulte o seu médico sobre a melhor forma de manter a contracepção e por quanto tempo ela deve ser utilizada.
Reações adversas mais comuns durante o uso de corticoide
São várias as reações adversas dos corticoides, sendo que a sua gravidade e intensidade normalmente estão relacionadas a dosagens grandes ou maior tempo de uso. Dentre os mais comuns e que aparecem logo nos primeiros dias de tratamento estão a retenção de líquido, rubor facial, aumento da pressão arterial, aumento da taxa de glicemia, edemas (inchaço) no corpo.
Como o corticoide atua da mesma forma que o cortisol, só que potencializado, estes hormônios a mais atuarão não somente na parte do corpo que está sendo tratada, mas em diversas outras áreas também. Quando utilizado por períodos um pouco maiores, ele começa a degradar algumas proteínas no organismo, o que leva a perda de massa muscular, redistribuição da gordura corporal (fica concentrada em áreas como rosto, abdômen e no dorso), diminuição da imunidade, estrias na pele que costumam ser bem grandes e arroxeadas. Nestas condições ele também pode favorecer a catarata, aumentar a fragilidade óssea e a propensão de desenvolver osteoporose – ainda mais se ministrado em pacientes com outros fatores de risco, como mulheres na menopausa.
Mesmo os corticoides de uso tópico podem oferecer riscos, principalmente se há cortes no local que se está aplicando a pomada ou creme. Estes riscos são diferentes dos anteriores e estão relacionados à diminuição da imunidade. Por exemplo, ao se passar corticoide em um corte, a região fica mais vulnerável a inflamações ligadas a fungos e bactérias, por isso, vários destes produtos já contém antibióticos e outras substâncias que minimizam este efeito colateral. Além deste, os corticoides de via inalatória, muito usados por crianças com crises asmáticas que “espirram” o produto dentro da boca, por exemplo, acabam acarretando num maior risco de uma candidíase oral (fungo) se utilizado muitas vezes.
Ou seja, as reações adversas ao efeito esperado são diferentes de acordo com a dosagem, tempo de uso, e formato de uso (comprimido, injetável, spray, colírio etc.) utilizado.
Corticoide engorda?
Infelizmente a resposta para esta pergunta é sim. Mas não é algo muito notável se usado por pouco tempo e os efeitos costumam desaparecer uma vez que a pessoa termina o tratamento. O corticoide engorda por algumas razões, dentre elas: ele aumenta o apetite, proporciona retenção hídrica, causa a redistribuição e acúmulo de gordura no corpo.
Protocolo de retirada do corticoide
Além de seguir as recomendações médicas com relação às doses dos medicamentos e os intervalos, também é essencial cumprir à risca o procedimento de retirada do corticoide. Isso, porque, dependendo da quantidade de corticoide que a pessoa está tomando o corpo para de produzir cortisol, então a retirada gradual é necessária para que esta produção volte ao normal – também aos poucos. Se retirado abruptamente o organismo entra num grave desequilíbrio, uma vez que o hormônio participa da regulação do metabolismo, o que pode até alterar a função cardíaca.
Riscos do uso contínuo de corticoide
O corticoide, justamente por ser um medicamento de grande efeito, ocasiona problemas mais graves quando usado cronicamente. Nestes casos o corticoide está relacionado à alteração celular em várias partes do corpo. Pessoas com artrite reumatoide e outras doenças reumáticas incuráveis podem acabar apresentando uma piora da sua situação quando utilizam este medicamento, uma vez que ficam dependentes dele e quando retirado há uma piora expressiva. Ele também está relacionado à cânceres mais agressivos, pode provocar obesidade central, supressão do funcionamento da glândula suprarrenal e, quando aplicado sobre a pele de forma contínua, pode mascarar problemas e fazer com que as lesões se tornem crônicas e de difícil tratamento.
Riscos do corticoide usado sem recomendação
Os corticoides são medicações potentes, com diversas recomendações e que costumam apresentar uma melhora rápida para o paciente. Com isso, algumas pessoas podem acabar utilizando as doses recomendadas pelo médico numa determinada situação de inflamação para tratar um problema posterior. Este processo é extremamente perigoso, uma vez que a pessoa não sabe o que está relacionado a estes novos sintomas, se a dose é menor ou maior do que a recomendada, nem se neste caso realmente seria necessário o uso de corticoides.
A partir deste momento ela está muito mais propensa a ter as reações adversas que comentamos e até a agravar o seu problema. Caso a pessoa esteja em tratamento contra um determinado câncer, por exemplo, e usa o corticoide de forma indiscriminada para aliviar suas dores além do que foi recomendado pelo médico, ela pode acabar fazendo com que este câncer se espalhe para outras partes do corpo. Então, só use este medicamento quando for indicado por um especialista e seguindo todo o tratamento proposto à risca.
Referências
Fontes consultadas:
Hamilton Wagner, membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) – CRM: 9339/PR.
Marisa Veiga, professora e coordenadora do curso de Farmácia das Faculdades Oswaldo Cruz.(Minha Vida)