Estudo contesta mito de que corpo tem mais bactérias que células
A população de bactérias que o corpo humano abriga é da ordem de 10 trilhões, similar ao número de células em nossos organismos, estima um novo estudo. O trabalho questiona a estimativa mais conhecida do público, segundo a qual os micro-organismos seriam dez vezes mais numerosos.
O novo cálculo, feito por um trio de biólogos de Israel e do Canadá, usou uma versão mais sofisticada da fórmula que deu origem ao número clássico. A conta anterior, muito citada mas pouco questionada, teve origem na década de 1970 quando a compreensão da flora bacteriana associada ao corpo humano não era tão grande.
Desde a virada do milênio, porém, um aumento considerável em estudos sobre a microbiota humana permitiu a realização de uma estimativa mais precisa, e Ron Sender, do Instituto Weizmann, de Israel, se uniu a dois colegas para realizar o trabalho.
A ideia era verificar se o estudo original — realizado em 1972 por um microbiologista chamado Thomas Luckey — sobreviveria ao crivo da ciência contemporânea. O trio conduziu então uma vasta revisão de estudos recentes sobre populações bacterianas em diversas partes do corpo humano e sobre contagem celular em vários órgãos e tecidos.
39 trilhões a 30 trilhões
Após encerrar o trabalho, os cientistas concluíram que um humano de referência — um homem de 20 a 30 anos, com 1,70 m de altura e 70 kg — abriga cerca de 39 trilhões de bactérias e possui cerca de 30 trilhões de células. Como a população de bactérias é muito variável, Sender e seus colegas destacaram o fato de que os dois números são “da mesma ordem de magnitude”, e não diferem de 10 para 1, como se pensava.
“Os números são tão parecidos que cada evento de defecação pode inverter a razão em favor das células humanas sobre as bactérias”, escreveu Sender.
Segundo o cientista, o erro cometido por Luckey tinha sido justamente o de superestimar a população de micróbios que habita o cólon (segmento final do intestino), justamente a parte do corpo que mais abriga micro-organismos. O estudo com a nova estimativa ainda não passou por revisão independente, mas já foi publicado no site bioRxiv, dedicado ao compartilhamento de artigos científicos em esboço.
Segundo Sender e seus colegas, a contagem de células e bactérias é importante como uma informação básica de biologia e pode ter aplicações médicas.
O número de células em cada tecido biológico, por exemplo, é importante para determinar a variação do risco de câncer entre diferentes órgãos. Estudos recentes sobre a microbiota humana, por sua vez, têm se revelado como fator importante no estudo obesidade, problemas metabólicos e outros.
(G1)