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Por que é que os países ricos do golfo Pérsico não acolhem refugiados sírios?

Os países muçulmanos mais ricos estão a ser criticados por não abrirem as portas às pessoas que fogem da violência na Síria. Essa inação deve-se em parte às suas características muito particulares.

À medida que números cada vez maiores de refugiados sírios chegam à porta da Europa, e os países europeus procuram distribuir entre si a responsabilidade pelos milhares de pessoas que fogem do país devastado pela guerra civil, erguem-se vozes críticas relativamente aos estados árabes mais ricos, como o Qatar e os Emirados Árabes Unidos, que não acolheram ainda nenhum refugiado sírio.
Segundo um relatório da Amnistia Internacional lançado em dezembro, até então alguns países de maioria muçulmana próximos da Síria, nomeadamente a Turquia, o Líbano, a Jordânia, o Iraque e o Egito, tinham acolhido milhões de refugiados sírios: só a Turquia recebeu mais de um milhão e meio. Mas os países ricos do golfo Pérsico, os seis estados que pertencem ao Concelho de Cooperação do Golfo, mantiveram as portas fechadas. Tratam-se da Arábia Saudita, do Bahrain, do Kuwait, do Qatar, da Omã e dos Emirados Árabes Unidos. Ao contrário do relatório da Amnistia, porém, a Arábia Saudita afirma que já deixou entrar mais de 500 mil refugiados desde 2011, de acordo com a BBC.
Estes países de maioria muçulmana, com sistemas políticos mais estáveis do que os do Líbano ou do Iraque, não acolheram nenhum refugiado desde o princípio da crise na Síria, e muitos querem saber porquê. No Twitter, hashtags em árabe que apelam à abertura das fronteiras para refugiados sírios por parte dos estados do Golfo ganham popularidade. O diretor da organização não governamental Human Rights Watch, Kenneth Roth, também publicou uma denúncia na mesma rede social.
A BBC destaca que os países do golfo Pérsico não têm ficado de braços cruzados, tendo doado cerca de 805 mil dólares desde o princípio da crise, principalmente através de doações feitas por cidadãos ou de organizações não governamentais (embora o Washington Post destaque que essas doações são menos de um quarto das feitas pelos Estados Unidos). Mas as doações, que são empregues na manutenção de campos de refugiados, já não servem de muito numa altura em que a crise síria já completou o seu quarto ano, e os sírios não querem continuar a viver em situações precárias, em campos de refugiados com demasiadas pessoas para as suas infraestruturas e sem condições para construir um futuro.
É muito difícil para um sírio entrar como refugiado nesses países do golfo Pérsico devido, em parte, ao facto de nenhum desses países ser signatário da Convenção das Nações Unidas sobre os Refugiados de 1951, que estabeleceu o estatuto do refugiado. Por isso, um sírio precisaria de se candidatar a um visto para entrar num destes países como um cidadão de qualquer outro país. Mesmo excluindo a situação de muitos sírios que desertaram do exército devido à guerra civil, ou cujos pais desertaram, e que por isso não conseguem um passaporte com o qual candidatar-se a um visto, o processo de entrada nos países do golfo é difícil, em parte devido à sua situação demográfica muito particular.
Países como os Emirados Árabes Unidos e o Qatar têm uma grande percentagem de trabalhadores estrangeiros, com a sua população local a somar pouco mais de 10 por cento dos habitantes no país. Mas esses trabalhadores não ficam muito tempo, permanecendo, na maioria, apenas até ao fim do seu contrato de trabalho, e voltando depois a sair do país. Isso faz com que os países consigam manter algum equilíbrio demográfico com a sua população nativa numa posição dominante, explica a BBC. Existe assim alguma relutância em acolher grandes números de sírios, sem os contratos de trabalho que, regra geral, são exigidos para a concessão de um visto.
A revista Quartz destaca, porém, que os países ricos desta região têm particularidades que os tornam ideais para acolher grandes números de refugiados, mais ainda do que o facto de serem países muçulmanos. “A região tem capacidade de construir habitações para os refugiados rapidamente. As grandes empresas de construção que fizeram as torres cintilantes de Dubai, Abu Dhabi e Riyadh deviam ser contratadas para criar abrigos”, lê-se na Quartz, que acrescenta que a Arábia Saudita tem experiência com a gestão da chegada de milhões de estrangeiros, devido à peregrinação anual que leva multidões a Meca.
(DN)

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