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Para salvar o futebol brasileiro, é preciso reduzir ou matar os estaduais

O Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil estão chegando aos seus momentos derradeiros. Os jogos são cada vez mais decisivos. O torcedor deveria estar esfregando as mãos e ansioso, mas está mesmo é preocupado, porque os times que ainda brigam pelo título ou para chegar nos primeiros lugares estão cada vez mais prejudicados por lesões de jogadores. E o vilão, claro, é o calendário, principalmente os campeonatos estaduais.
Antes de mais nada, torcedor, responda: você prefere a zoeira com o rival ou o desenvolvimento do futebol brasileiro? Se escolheu a primeira opção, pare por aqui, porque este texto não é pra você. Existem formas diárias de provocar quem veste outra camisa, e seus times sequer precisam se enfrentar para isso.
Minha opção é pelo avanço na bola que rola por aqui, por isso, acredito que os estaduais, como estão, só atrapalham e enganam. Primeiro porque fazem os clubes jogarem excessivamente, sem comparação com o que acontece lá fora. O Barcelona, por exemplo, fez 60 partidas na temporada passada, em que ganhou Campeonato Espanhol, Copa do Rei e Liga dos Campeões, ou seja, quase fazendo o máximo possível – ficou fora das Supercopas da Europa e Espanha, o que poderia ter aumentado em três o número de compromissos.
Olhemos agora para o Brasil, onde o Internacional poderá chegar a 78 jogos caso alcance a final da Copa do Brasil. Isso porque a equipe não conseguiu avançar à decisão da Taça Libertadores e, portanto, não disputará o Mundial, que poderia elevar a marca para 82 partidas. Líder do Campeonato Brasileiro, o Corinthians poderá chegar a 73 partidas, mesmo caindo nas oitavas da competição continental e ficando nas oitavas de final da Copa do Brasil e nas semifinais do Paulista.
O resultado é que em setembro muitos atletas se comportam fisicamente como estivessem em fim de temporada, no limite do rendimento físico. No último dia 3, no jogo entre Figueirense e Grêmio, cada técnico precisou fazer uma alteração até os 40 minutos do primeiro tempo, por causa de problemas musculares dos atletas. Situações como estas prejudicam silenciosamente o nível do futebol jogado por aqui.
Os clubes passaram a usar o estadual como um “cala-boca” para torcedores. Como foi o Vasco, neste ano, que voltou todas as energias para encerrar o jejum de títulos no Carioca, que durava 12 anos, e depois se perdeu no Brasileiro. Campeão paulista em 2015, o Santos precisou corrigir rumos na competição nacional para não amargar um rebaixamento, destino quase certo para o Vasco, que somou 13 pontos em 23 rodadas.
Em situação oposta, o Grêmio perdeu o Gaúcho para o Inter, mas se reinventou e agora brilha na Série A. O clube teve o mérito de não se abater ao sucumbir diante de rival local, mas nada garante que exista planejamento em reações como esta ou de times como o Fluminense, que foi mal no estadual do Rio, ou do Corinthians, que não chegou à decisão em São Paulo.
A solução clara é reduzir ou extinguir os campeonatos estaduais, que poderiam virar torneios de pré-temporada. Essa medida sequer deixaria times inativos – estes, aliás, não estão com calendário incompleto com o atual sistema? -, já que precisam estar inseridos em divisões nacionais, não escondidos na quarta divisão do Paulista, terceira do Rio tentando não cair para a segunda na Bahia ou no Rio Grande do Sul.
Lembra da pergunta lá de cima, sobre rivalidade ou evolução do futebol? O problema é que eles estão inclinados a optar pelo primeiro, estão satisfeitos com a grana que vem da TV pelos direitos dos estaduais e não querem, de forma alguma, dividir o bolo de toda a receita que têm, com equipes de menor expressão. Enquanto isso, a bola segue rolando quadrada por aqui.
(Carta Capital)

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