Superlotação de urgências em hospitais une estado e município
O estado e a prefeitura se uniram para debater formas de solucionar o acolhimento de pacientes na rede de urgência em Salvador, através de um fórum de gestores da área de saúde. A iniciativa é decorrente do aumento no fluxo da regulação (encaminhamento) para as unidades hospitalares.
De acordo com o chefe médico do SAMU-Serviço de Atendimento Médico de Urgência, Antonio Fernando e Maria Auxiliadora, supervisora da área de Regulação, “a deficiência do atendimento na atenção primária é o fator que mais tem impactado o sistema, gerando a superlotação de pacientes nas redes pública e privada”. Defenderam, do mesmo modo, ser “preciso articular melhor a rede de urgência para evitar a perda de tempo e o comprometimento da assistência e a disponibilidade dos recursos.
Eles apontam a mobilidade urbana nos horários de rush, a média de mil trotes diários e o acolhimento junto à rede hospitalar, em que pese o tempo do paciente nas ambulâncias, como as “maiores dificuldades na atuação do atendimento a pacientes pelo SAMU”. O serviço tem um formato originado no sistema de saúde francês, cuja referência na realidade europeia sofreu adequações à realidade brasileira. O tempo médio entre a solicitação, avaliação do quadro de saúde dos pacientes, a regulação e o deslocamento da unidade móvel até o local tem como meta alcançar cerca de 20 a 30 minutos. “Já conseguimos efetuar o procedimento em até 15 minutos”, diz Antonio Fernando.
A Região Metropolitana tem sete bases, em Simões Filho, Candeias, São Francisco do Conde, Lauro de Freitas, Madre de Deus e Vera Cruz, com uma Unidade Avançada, composta por médico, enfermeiro, condutor e, em Santo Amaro, com uma unidade básica, integrada por enfermeiro e técnico de Enfermagem. Salvador dispõe de 14 bases centralizadas, com um total de 33 ambulâncias nos dois modelos adotados.
Há, ainda, 10 motos, mobilizadas sempre em pares, com técnicos de enfermagem que são também motociclistas e a “ambulancha”, aportada na Marina, destinada ao atendimento e transferências de moradores das ilhas da capital e de Vera Cruz ou Itaparica. Há 21 médicos no SAMU da capital, sete reguladores e outros 14 divididos nos dois turnos para garantir as 24 horas de disponibilidade aos atendimentos, frente à ocorrência de 3.500 a 4 mil solicitações mensais, das quais cerca de 700 a 800 através das unidades avançadas.
Casos clínicos são 60% das ocorrências do SAMU
Segundo Fernando e Auxiliadora, “todos os acidentes de Salvador são atendidos pelo SAMU”. Mesmo sem dispor de estatísticas, estipularam as ocorrências com traumas em 30%; casos clínicos, em 60%; e 10% entre obstétricos, psiquiátricos e pediátricos (os de menor demanda). Em meio à variedade de casos atendidos, “os mais constantes são infartos, convulsões, quedas de altura e da própria altura”. Citaram os desabamentos e corrimentos de terra, decorrentes das chuvas em abril e maio desse ano, como os que requereram maior quantidade de unidades móveis, salientando que as ocorrências com múltiplas vítimas são as que demandam maior quantitativo de profissionais de saúde. Eles informaram, ainda, que “muitas solicitações não são pertinentes ao serviço, como as de transporte de pessoas para consultas”.
Os médicos orientam as pessoas que necessitem acionar o serviço que o façam “somente em casos de urgência e que, de preferência, estejam ou se mantenham próximas ás vítimas ou pacientes, para fornecer informações importantes ao atendimento”. Sobre os milhares de trotes, a maioria promovida por crianças, fizeram ver a “ocupação do telefone quando outras pessoas podem estar tentando solicitações por demandas reais e graves”. Para evitar os trotes, foi criado o programa SAMU nas Escolas, que inclui a ida de especialista às unidades da rede estadual de ensino para demonstrar a importância do Serviço de Atendimento Médico de Urgência à população como um todo.
Os médicos revelaram a disponibilidade do DEA-Desfibrilador Externo Automático, equipamento fundamental para o suporte básico de vida em casos de parada cardíaca, em estações de transbordo da cidade e defenderam a adoção do mecanismo, como uma obrigatoriedade, em academias de ginástica, lanchas do Ferryboat e em locais de grande aglomeração de pessoas. Outro dado importante mencionado por eles é o de que o SAMU pode, também, ser acionado por pacientes com planos de saúde, que serão regulados para hospitais do SUS ou da rede credenciada, salientando, todavia, a “grande dificuldade para encaminhar à rede privada”.
(TB)