Endividamento ainda é um grande problema da Petrobras
Os papéis da Petrobras caíam cerca de 5% ao meio-dia, depois de recuarem também na segunda-feira, mesmo com o lucro maior que o esperado no primeiro trimestre, divulgado na sexta-feira. A reação do mercado parece contraditória, mas não é. Uma análise mais profunda do balanço mostra uma empresa muito endividada e dependente de variáveis que não controla. O caminho para a recuperação ainda é longo.
O lucro de R$ 5 bi teve um componente extraordinário. A empresa reverteu a provisão feita no balanço de 2014 para um crédito com a Eletrobras, que deve o gás natural usado nas térmicas. É uma operação que aumentou o lucro da Petrobras no primeiro trimestre, mas que não se repetirá nos próximos.
O que mais preocupa os analistas, contudo, são as dívidas da empresa. O endividamento subiu R$ 50 bi nos primeiros três meses do ano, para R$ 332 bi. Nos últimos 10 anos, o nível de endividamento da Petrobras subiu 10 vezes.
Em 2005, ela precisava de 0,5 ano de geração de caixa operacional (Ebitda) para pagar suas dívidas; no fim de 2014, o indicador chegou a 4,77 anos. É o indicador mais sensível da empresa, e o presidente Aldemir Bendine avisou que chegaria a 5 no primeiro trimestre. Mas, no balanço, a administração apresentou uma queda neste indicador, para 3,86. Isso foi possível porque ela decidiu anualizar o Ebitda dos primeiros três meses, uma maneira de calcular o indicador. Mas o mercado não embarcou; sabe que o endividamento continua sendo um problema. Usando a geração de caixa dos últimos quatro trimestres, o indicador foi a 5.
A geração de caixa do primeiro trimestre, avisam os analistas, foi beneficiada pelo preço baixo do petróleo, principalmente entre janeiro e fevereiro. Isso permitiu um ganho maior da Petrobras porque, diferentemente do que diz a propaganda, o Brasil não é autossuficiente em petróleo. O curioso é que foi exatamente por importar óleo que a geração de caixa foi tão boa no primeiro trimestre.
A Petrobras depende de variáveis que não controla, como o preço internacional do petróleo. Com a subida recente da cotação do barril, a empresa deixou de vender combustíveis com o prêmio que conseguiu no começo do ano.
O balanço da Petrobras mostrou que o caminho para a recuperação é longo.
(Blog da Míriam Leitão)