Impressiona o amadorismo do governo na condução da crise
A decisão de Graça Foster fez bem a ela, e também à companhia porque empurra o governo a tomar uma decisão sobre o novo presidente da Petrobras. Dependesse do Planalto, a maior empresa do Brasil ficaria sem comando por um mês, com uma presidente demissionária. Impressiona o amadorismo do governo na condução dessa crise.
Não adianta colocar outro executivo na presidência se o Planalto continuar se comportando dessa forma, comandando à distância a Petrobras sem dar autonomia à administração da companhia. Se a intenção é retomar a credibilidade, os novos gestores têm que ter liberdade de decisão para, por exemplo, decidir a formação de preço dos combustíveis. As indicações políticas têm que ser aposentadas. O loteamento partidário, “essa diretoria pertence ao PT, esta outra ao PMDB”, está na base da corrupção na empresa.
O capítulo de ontem da Petrobras é lamentável pelo amadorismo. Convoca uma reunião, demite a presidente da Petrobras, deixa a informação circular e determina que a diretoria fique pendurada no ar durante um mês, no meio dessa crise. Essa estratégia insensata, inclusive, foi reforçada hoje pela manhã pelo ministro das Minas e Energia, antes de Graça Foster se demitir. Não foi a primeira vez que a presidente Dilma tentou algo parecido; o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega ficou três meses de aviso prévio.
Um conhecimento básico de gestão evitaria esse problema.
Com a renúncia da diretoria, na sexta-feira o Conselho elege os novos diretores e presidente da empresa. O problema é que o órgão continua com conselheiros que participaram de decisões desastradas, como o Mantega e a ex-ministra Miriam Belchior.
O próximo presidente tem que ter perfil para operar crises e ser notoriamente independente; alguém que tenha em seu histórico a obediência a ordens governamentais — principalmente deste grupo no poder — não vai passar confiança. Nesse caso, não há meia solução.
É preciso que a empresa seja conduzida pelo melhor interesse dos seus acionistas. Cada cidadão brasileiro é controlador da Petrobras, ou ele tem ações diretamente ou através do Tesouro, que controla a empresa. O Tesouro não é do partido que está no poder; ele representa o estado brasileiro. A não compreensão disso é que levou a empresa para onde ela está.(Blog da Miriam Leitão)