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Proposta de orçamento para 2015 é muito otimista, dizem economistas

A proposta orçamentária para 2015 apresentada pelo governo brasileiro nesta quinta-feira (28) aponta uma estimativa de crescimento do PIB de 3%, inflação em 5% e superávit primário para o setor público consolidado em 2,5% do PIB. Economistas consultados pelo Jornal do Brasil consideram essas projeções muito otimistas, já que a atividade econômica segue com desafios e problemas que a indústria brasileira ainda enfrenta, puxando o crescimento para baixo, com impactos na geração de empregos.
Alex Luiz Ferreira, professor de Economia na USP, também comenta que, a princípio, a proposta do governo parece otimista, bem acima das previsões do mercado. “O que vai acontecer internamente vai depender do cenário político, e de quais medidas serão tomadas”, pondera. 
Roberto Simonard, coordenador dos cursos de gestão e professor do Mestrado em Economia Empresarial da Universidade Candido Mendes, também apontou para o caráter bastante otimista do orçamento para 2015. “Uma inflação de 5% é irreal, superávit de 2,5% é irreal. O superávit hoje mal passa de 2%. Assim mesmo, com receitas não recorrentes. Acho o orçamento muito otimista”.
Para Simonard, o crescimento no ano que vem não deve passar de 2%. Ele destaca que a indústria brasileira tem tido um desempenho muito ruim, com diversos problemas, como alta carga tributária e juros altos, e grande peso no desempenho da economia.  “A indústria tem uma série de problemas para competir, e tem puxado a economia para baixo há muito tempo.”
Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, avalia as premissas apresentadas como “irrealistas”. A dinâmica de crescimento neste ano deve ficar em 0,6%, pelas contas da consultoria, e, no que vem, em 1,5%. O último boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (25), indicou uma projeção de crescimento de 0,70% em 2014 e de 1,2% para o ano que vem. A projeção do governo para o crescimento do PIB em 2015, então, é o dobro do projetado pelo mercado. 
“A conjuntura vai ser bem adversa”, acredita Salto, com atividade desacelerada. O economista destaca a situação do mercado de trabalho na indústria de transformação. Enquanto a geração de empregos no setor em 2010 era de 485 mil, em 2013 ficou em 83 mil, “uma destruição crescente de vagas na indústria”. Sinal, aponta, de que o país deve enfrentar dificuldades para crescer. 
Salto sugere que, para garantir uma recuperação com mais força, o governo que estiver no poder no próximo ano poderia tomar medidas de restrição fiscal e conferir maior transparências às contas. Ele aposta que uma alternativa viável, por exemplo, seria o aumento nos juros, para conter a inflação. 
“O PIB não vai ter espaço para crescer muito. Este é um orçamento ousado. É preciso sinalizar uma meta mais realista”, diz Salto. Sobre a projeção do superávit primário para o setor público consolidado de 2,5% do PIB, o economista também pondera que há grandes dificuldades para que a projeção se concretize, já que o deste ano deve ficar em 0,5%, reduzindo as chances de multiplicação desse valor, com o peso das desonerações. A não ser, pondera, que o governo se utilize de medidas como as que tem adotado, como a triangulação entre Tesouro e BNDES para produzir dividendos. 
A inflação de 5% também aparenta ser irrealista para Salto. A Tendências projeta um índice de 6,3% para o ano que vem. 
Salto também alerta para o custo do acréscimo no salário mínimo, que exigiria R$ 300 milhões para cada real de alteração no mínimo – um custo de R$ 19,2 bilhões. O que, no entanto, deve acontecer em qualquer governo, já que todos os candidatos já se comprometeram com o reajuste. 
O Jornal do Brasil vem alertando para a queda significativa do crescimento do PIB em 2014, principalmente devido à Copa do Mundo e eleições. No início de junho, a divulgação do acréscimo de apenas 0,2% do PIB no primeiro trimestre, aliado à queda de 0,8% da indústria, retração do consumo das famílias em 0,1% e queda de 2,1% nos investimentos, entre outros dados, gerou expectativas pessimistas, com analistas reforçando as chances do PIB ficar negativo em dois trimestres seguidos – devido a resultado negativo no terceiro trimestre ou no primeiro, após uma revisão de seu desempenho, com o índice negativo do segundo trimestre já quase dado como certo.
(Jornal do Brasil)

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