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Juros não caem

Uma dúvida dos últimos dias já estava derrubando a curva de juros. Era a de que, diante da fraqueza da economia e da eleição, o Banco Central iria reduzir a Selic. Alguns analistas achavam que sim. Na Ata divulgada ontem, o Copom tirou do radar essa possibilidade, por enquanto. Com palavras e números, avisou que continuará trabalhando para que a inflação caminhe para a meta.
Inflação e meta não se encontrarão neste governo, mas talvez haja esperança dessa convergência ocorrer em algum ponto do “horizonte relevante para a política monetária”. Nesse inespecífico futuro, o Brasil terá uma inflação de 4,5%. Na atual administração, isso não aconteceu. O importante, no entanto, é que o BC, mesmo sem a ajuda da política fiscal, não jogou a toalha.
Melhor assim, porque apesar da fraqueza do PIB, a inflação está acima do teto da meta e o déficit em conta-corrente se aproxima de 4% do PIB. Reduzir juros não estimularia a atividade, mas reduziria ainda mais a confiança na ação do Banco Central neste fim de mandato.
Logo no primeiro parágrafo, a Ata do Copom mostra um quadro difícil. Olhando para os números da inflação, o BC registra que a taxa em junho deste ano é de 6,52%, acima do teto da meta, e que em junho do ano passado ela também estava acima, em 6,72%. Ou seja, 12 meses e muitas elevações de juros depois, pouca coisa mudou e os preços continuam acima da margem de tolerância. Isso acontece mesmo com a estagnação econômica e a contenção dos preços da gasolina, energia elétrica e câmbio.
Como registrou o documento, a inflação permanece resistente. O economista Luiz Roberto Cunha é um dos que tem cenário de que o ano termina com o IPCA abaixo de 6,5%. Mesmo assim, Cunha lembra que há muita incerteza em relação às tarifas e a inflação de serviços permanece muito alta. “Reduzir juros agora seria perigoso”, disse.
O principal recado da Ata é afastar a possibilidade de um corte de juros este ano, interpretação que vinha crescendo no mercado a cada novo indicador de baixa da atividade e queda da confiança dos agentes econômicos. O problema é que, com esse nível de inflação, reduzir a Selic teria mais efeitos colaterais do que benefícios.
O impulso na economia não aconteceria com uma pequena redução dos juros, e o Banco Central perderia ainda mais o controle sobre as expectativas. A entrada de dólares no país seria menor, e isso colocaria pressão sobre a nossa moeda. Não haveria ganhos e se jogaria mais lenha na fogueira da inflação.
Em uma das tentativas de acabar com a impressão, o BC, no parágrafo 31 da Ata, registrou: “…o Comitê antecipa cenário que contempla inflação resistente nos próximos trimestres, mas, que, mantidas as condições monetárias — isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária — tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção.”
Embora fale em convergência para a meta, o Banco Central refez os seus cálculos para o IPCA e agora espera uma taxa mais alta tanto para 2014 quanto para 2015. É isso que ele diz no parágrafo 19, mas sem revelar os seus números.
A projeção de alta da energia elétrica subiu de 11% para 14%, o cálculo da correção dos preços administrados foi de 5% para 6% no ano que vem. O quanto será, de fato, depende muito da crise do setor elétrico, que está acumulando uma conta bilionária a ser repassada para as tarifas nos próximos anos.
O Banco Central está em um dilema. A inflação está caindo em relação ao mês anterior, mas vai passar alguns meses acima do teto da meta. O nível de atividade está diminuindo e as projeções são de crescimento pífio neste fim de mandato. Ao mesmo tempo, ele não recebe ajuda da política fiscal para combater a alta dos preços e tem pouco espaço para subir os juros em um cenário de desaceleração da economia.
É bom não esquecer que o quadro da economia internacional está estável. O mundo está ajudando. Mas quando os juros americanos começarem a subir ficará mais difícil segurar o preço da gasolina ou evitar a desvalorização cambial. Haverá, portanto, mais pressão inflacionária.
Por Míriam Leitão

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