Populações indígenas são as mais afetadas por injustiças ambientais
Os resultados dessas duas questões foram selecionados e publicados na Colômbia por Mario A Perez. Eles mostram que comunidades indígenas (de origem pré-hispânica) e afro-colombianos (para simplificar, resguardos e palenques) são desproporcionalmente afetados por injustiças ambientais decorrentes de conflitos abertos.
Em um artigo no principal jornal colombiano, El Espectador, Carlos Andrés Baquero utiliza esse banco de dados para mostrar a incidência de conflitos ambientais contra minorias indígenas e afro-colombianas. Dos 72 casos de conflitos que já foram catalogados algumas semanas atrás, essas minorias étnicas estão envolvidas em 42 deles, uma proporção muito maior do que a sua presença na população total. Outro ponto é que as comunidades indígenas ainda são atingidas duas vezes mais do que as comunidades afro-colombianas.
Essas descobertas remetem diretamente para a interpretação original da ideia de justiça ambiental dos movimentos por direitos civis nos Estados Unidos, nos anos 1980, por Benjamin Chavis, Robert Bullard e outros escritores-ativistas, como uma luta contra o “racismo ambiental”. Um mapa preparado por Mario A Perez apresentando a geografia do racismo ambiental na Colômbia está incluindo nesse artigo publicado no El Espectador.
De fato, as populações indígenas e afro-colombianas vivem, muitas vezes, nas fronteiras da extração de commodities. Suspeitamos que o índice apresentado na Colômbia possa ser similar no Brasil (levando-se em conta tanto as populações indígenas quanto afro-brasileiras), e para as populações indígenas de muitos outros países da América Latina. Esperamos saber se as informações sobre a Índia vai permitir aos analistas do nosso Atlas EJOLT a produzir uma análise similar em termos de identidades tribais ou de castas, e quais seriam os resultados na África. No Brasil, o mapa é coordenador por Marcelo Firpo Porto, pesquisador da Fiocruz.
Essas hipóteses e descobertas devem ser de interesse imediato de organismos internacionais, em particular os relatores da ONU sobre direitos humanos e povos indígenas. Nos perguntamos quanto ainda vai demorar para o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) começar a olhar a base do EJOLT e outras fontes sobre conflitos relacionados a extração de recursos e despejo de lixos no mundo hoje. O PNUMA também prefere permanecer em silêncio sobre os milhares de conflitos socioambientais e as suas tantas vítimas. Um relatório recente da Global Witness contabilizou mais de 900 ambientalistas populares assassinados nos últimos dez anos no mundo, sendo o Brasil o país mais violento, com 448 mortes.
No artigo em El Espectador há, no entanto, uma interpretação equivocada quando afirma, que a Colômbia é o segundo país do mundo, depois da Índia, em número de conflitos. Isso é verdade no atual mapa do EJOLT, pela razão de que ainda estão sendo compilados casos no Brasil e no México, na América Latina, e para Indonésia, China e outros grandes países em outras regiões.
(Carta Capital)