FHC aponta ‘fadiga de material’ do PT
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse nesta terça-feira (25) no Senado que há “fadiga de material” da administração do PT, mas ressalvou não poder afirmar que o governo não tem controle da inflação.

“A partir de certo momento, há uma fadiga de material. Eu sofri essa fadiga quando estava no governo e agora tem fadiga de material. De novo o mesmo? Meu Deus, o país é um país novo, precisa de aeração, de sentir ventos novos”, afirmou, ao defender a pré-candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República.
Em discurso na mesma cerimônia, Aécio Neves apontou risco à estabilidade econômica e disse que o PT mergulhou o país na “desesperança”, ao que o líder da bancada petista no Senado, Humberto Costa (PE) respondeu: esesperança era quando o desemprego tinha taxa de dois dígitos, a inflação era altíssima e o dólar atingia a sua cotação mais alta”.Indagado sobre se tem preocupação com os rumos da economia, FHC disse que não pode ser “injusto”. “Eu me preocupo, mas não posso ser injusto e dizer que o governo não controla a inflação. Antes tinha 20%, 30% [de aumento da inflação] ao mês. Agora é 6% ao ano”, declarou, antes de discursar na tribuna do Senado.
Embora tenha ressalvado que não poderia ser “injusto”, Fernando Henrique afirmou que o país está num “compasso diferente” da economia mundial.
“A política econômica é navegação. Em cada momento você vê o que tem que fazer. Não pode ter uma ideia fixa, mas tem certos rumos que tem de ser mantidos. Neste momento, o Brasil está um pouco num compasso diferente do compasso do mundo. Tem que ajustar de novo”, declarou.
‘Paralisação’ da administração
No discurso no Senado, Fernando Henrique Cardoso pregou a redução do número de partidos e de ministérios. Segundo ele, 30 partidos e 39 ministérios são a “receita para paralisação da administração”.
No discurso no Senado, Fernando Henrique Cardoso pregou a redução do número de partidos e de ministérios. Segundo ele, 30 partidos e 39 ministérios são a “receita para paralisação da administração”.
“É clamoroso que não podemos conviver com o sistema político eleitoral que gera fragmentação partidária. Com 30 partidos e 39 ministérios é a receita para a paralisação da administração. Não dá mais”, disse.
O ex-presidente também falou sobre o programa de concessões do governo federal. “Levaram muito tempo para descobrir que o Estado sozinho não dá conta de aeroporto, estrada, energia”.
Segundo ele, as agências reguladoras perderam a força e estão “infiltradas por interesses de todo tipo”. O ex-presidente, cuja gestão foi criticada pela privatização das empresas de telefonia, disse que o programa de concessões retoma o que sua gestão já havia feito.
“Agora se comemora outra vez: ‘meu Deus, é concessão’. E o que eu fiz com a telefonia? Não foi concessão? É a mesma coisa. Por que ter medo de dizer as coisas e de dizer a verdade ao país?”, questionou o ex-presidente.
Lula
Ao relembrar o lançamento do Plano Real, Fernando Henrique disse que “fez de tudo” para convencer o PT de que a nova moeda era “algo positivo”.
Ao relembrar o lançamento do Plano Real, Fernando Henrique disse que “fez de tudo” para convencer o PT de que a nova moeda era “algo positivo”.
FHC disse ter chamado ao seu apartamento em Brasília Luiz Inácio Lula da Silva e o então deputado federal José Dirceu para tentar convencê-los da viabilidade do plano. Segundo o tucano, os dois questionaram se o PSDB teria um candidato “competitivo”.
“Eu respondi com sinceridade: ‘eu não creio’. O PSDB naquela altura cogitava até apoiar o próprio Lula”, contou. “Fracassei em convencer a liderança do principal partido de oposição naquele momento”. FHC foi eleito presidente da República em outubro daquele ano.
Fernando Henrique ainda comentou um artigo publicado nesta terça-feira pelo jornal “Valor Econômico” no qual Lula lembra que a inflação no país foi reduzida de 12,5% em 2002 para 5,9%. Segundo o tucano, o índice de 2002 se explica pela “medo” do mercado diante da possível eleição de Lula.
“O presidente Lula sempre faz uma comparação como se a história começasse com ele. Está bem, cada um tem seu modo de ser, mas ele diz que a inflação em 2002 era de 12% e agora é de 6%. Só que em 2002 a inflação era dele, era o medo do Lula. Nós derrubamos quando era 40% ao mês”, afirmou FHC.
(G1)