Por que cientistas sofrem no Brasil?
No começo do mês passado, a neurocientista Suzana Herculano-Houzel levou ao Congresso Nacional 17.125 assinaturas de cientistas brasileiros favoráveis à regulamentação da ciência como profissão no Brasil. Suzana é uma das maiores referências em pesquisa do cérebro no brasil e dá aulas no Departamento de Neuroanatomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A petição reivindica que seja elaborado um projeto de lei que garanta aos cientistas os direitos trabalhistas básicos de qualquer profissão. Países desenvolvidos, como Alemanha, Japão e Estados Unidos, reconhecem há décadas a importância dos investimentos em pesquisa científca para o desenvolvimento econômico e social.
Os Estados Unidos, maior economia do planeta, atribuem mais da metade de seu enriquecimento às inovações tecnológicas impulsionadas pela ciência, de acordo com um estudo da coalizão científca, organização que reúne as principais instituições de pesquisa daquele país. Mas essa realidade não se reproduz no Brasil.
Enquanto os investimentos brasileiros em pesquisa e desenvolvimento não passam de 1,6% do Produto Interno Bruto, os Estados Unidos investem no setor mais de 3% de seu PIB, seis vezes maior do que o nosso, segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Uma das principais consequências dessa desvalorização da categoria, para Suzana, é que a maior parte da produção científca brasileira é feita por pesquisadores com status de estudantes, porque a profssão não é regulamentada.
Os principais cérebros da inteligência brasileira têm como única fonte de subsistência as bolsas oferecidas por órgãos públicos de fomento, como Capes, CNPq e Fapesp. O valor do subsídio mensal da Capes é de 1.350 reais para mestrandos, 2.000 reais para doutorandos e 3.700 reais para pós-doutorandos, o que pode ser considerado precário, dado o nível de qualifcação dessa mão de obra.
(Exame)