Mudar o estilo de vida pode reverter envelhecimento celular
Os pesquisadores sabem há bastante tempo que mudanças no estilo de vida — como a adoção de dietas e a prática de exercícios físicos — podem melhorar a saúde de um indivíduo, prevenindo problemas cardíacos e aumentando sua expectativa de vida. Uma pesquisa publicada na revista The Lancet Oncology nesta terça-feira mostra, pela primeira vez, que essas mesmas mudanças também podem impedir, e até reverter, o envelhecimento das próprias células do indivíduo — e do DNA em seu interior.
Os pesquisadores já sabem que comprimentos menores dos telômeros estão associados a um risco maior de morte prematura e doenças relacionadas com a idade, incluindo muitas formas de câncer — como o de mama, próstata, pulmão e colorretal —, doenças cardiovasculares, demência, AVC, osteoporose e diabetes.Os telômeros são estruturas de proteína localizados no final de cada cromossomo. Eles fornecem uma proteção semelhante à presente nas pontas dos cadarços. Eles costumam envolver as extremidades do DNA, ajudando a mantê-lo estável e impedindo seu desgaste. No entanto, conforme as células se dividem, os telômeros se tornam mais curtos e mais frágeis. Assim, com o passar do tempo, eles se tornam menos capazes de proteger os cromossomos e podem ser usados como uma espécie de indicador da idade das células.
Em seu estudo, os pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, analisaram se mudanças no estilo de vida poderiam ter influência direta no próprio tamanho dos telômeros e não só na saúde geral do corpo. Para isso, analisaram o DNA de um pequeno grupo de homens diagnosticados com câncer de próstata de baixo risco, e que não tinham sido submetidos a tratamentos convencionais como cirurgia ou radioterapia.
Dez desses homens foram selecionados para passar por um tratamento que incluía uma mudança completa em seu estilo de vida, incluindo a adoção de uma dieta vegetariana, um regime de exercícios físicos moderados, a prática de técnicas de gerenciamento de stress — como meditação e ioga — e uma maior proximidade com família e amigos. Outros 25 homens serviram como um grupo de controle, e não passaram por nenhum tipo de tratamento.
Os cientistas mediram o comprimento dos telômeros de todos os participantes antes do início do estudo e após cinco anos. Como resultado, descobriram que os indivíduos que não passaram por nenhum tratamento apresentaram um leve envelhecimento no nível celular, com o comprimento de seus telômeros diminuindo 3%. Já os voluntários que adotaram mudanças abrangentes em seu estilo de vida rejuvenesceram — seus telômeros aumentaram, em média, 10%.
Além disso, o estudo mostrou que existe uma relação significativa entre o grau com que os indivíduos adotaram o novo estilo de vida e a alteração em seus telômeros: quanto mais os participantes assumiram os novos comportamentos, mais seus telômeros aumentaram de tamanho. Mostraram assim que essas mudanças podem, sim, reverter o envelhecimento das células. “Se confirmarmos esses resultados em estudos de grande escala, vamos ser capazes de provar que mudanças globais no estilo de vida podem reduzir significativamente o risco de uma grande variedade de doenças e mortalidade prematura”, diz Dean Ornish, pesquisador da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e autor do estudo.
(Veja)